Requalificação do mercado tem mais de um ano de atraso e comerciantes anseiam pelo regresso ao antigo local de trabalho.
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Foi com expectativa e ansiedade que os comerciantes do Bolhão receberam a notícia de que a requalificação do emblemático mercado do Porto ficará concluída durante o segundo semestre deste ano. Trata-se de um adiamento face à data inicialmente prevista que apontava a abertura do Bolhão para maio. A obra sofreu um primeiro atraso de um ano, devido à necessidade de se alterar o método construtivo, a que se juntaram mais uns meses. O anúncio de Rui Moreira levanta dúvidas aos comerciantes que veem a obra "muito atrasada no terreno".
O interior do mercado é ainda uma enorme cratera. A azáfama é grande com os camiões a entrar e a sair pela porta principal de acesso pela Rua Formosa. "Está a andar bem. O parque de estacionamento e o túnel estão construídos, mas ainda há muito para fazer", afirmou ao JN um trabalhador no local. A criação do túnel do Bolhão, entre a Rua do Ateneu Comercial do Porto e a Rua de Alexandre Braga, passando sob a Rua Formosa, vai possibilitar o acesso direto ao piso subterrâneo de logística do Mercado do Bolhão quando este reabrir.
"Estamos confiantes, embora o pessoal ache que as obras estão ainda muito atrasadas. Mas não fomos informados oficialmente quanto à abertura, nem nunca fomos convidados a visitar o local", refere Hugo Silva, que lidera a Associação do Comércio Tradicional Bolha de Água. O Mercado Temporário continua a ocupar os cerca de 5600 metros quadrados do piso -1 do Centro Comercial La Vie.
"Temos todas as condições de segurança e de higiene e até agora tivemos poucos casos de comerciantes infetados. Mas queremos sair daqui porque o nosso lugar é no Bolhão, não num centro comercial", acrescenta.
Polo de atração
Ao fim de quase três anos, em que o mercado encerrou, ninguém desistiu. Os lojistas dos espaços exteriores que se encontram no La Vie, devido à pandemia e por venderem produtos não alimentares, estão encerrados. Apenas a casa das sementes está aberta por comercializar alimentação para animais. De resto, "apenas um ou dois estão com as bancas tapadas, mas por opção".
"Ninguém mais do que eu quer que estas obras se concluam antes do final do mandato, acho que todos queremos", afirmou Rui Moreira na última reunião da Assembleia Municipal, depois de interpelado sobre o assunto pela deputada social-democrata Mariana Macedo, acrescentando que o Bolhão "estará seguramente pronto durante o segundo semestre deste ano".
"O problema é que, para nós, depende muito do mês. Acho bem que seja até outubro porque assim temos tempo de preparar o Natal. Abrir em dezembro não dará tempo e seria preferível irmos para o Bolhão apenas em janeiro", defende Hugo Silva.
Uma coisa é certa, "com o restauro nada será como antes" e o Bolhão, entre os comerciantes das ruas envolventes , é visto como um polo de atração de clientes e turistas a uma zona com um tecido comercial debilitado pela pandemia. "Isto tem sido um pesadelo e o Bolhão será fundamental para conseguirmos dar a volta", considera Inês Silva, funcionária do Comer e Chorar por Mais, estabelecimento da Rua Formosa, vizinho do mercado.
À porta da Casa das Colchas, Mário Martins olha para as obras e lembra o longo período em que a rua esteve cortada ao trânsito e aos peões. "Foram as obras e depois a covid. Dos 25 funcionários que tinha em simultâneo a trabalhar, agora tenho apenas oito", conta José Rodrigues, gerente da Confeitaria do Bolhão.
Em outubro, a Câmara do Porto lançou os concursos públicos para a atribuição de 12 lojas, 42 novas bancas e seis restaurantes. A Autarquia diz que "está a ser elaborado o relatório final" e que "em breve serão dados a conhecer os candidatos que passam para a segunda fase".
22,4 milhões de euros custa a renovação
Após as obras, haverá o regresso de 90 antigos comerciantes e 60 novos ocupantes, que irão pagar entre 12 e 50 euros o metro quadrado por mês. Mercado vai ter 102 bancas, 10 restaurantes e 38 lojas.
Mercado com 107 anos
1914 - Foi construído o atual edifício, num projeto desenhado pelo arquiteto Correia da Silva, que conferiu monumentalidade à praça de mercado que ali existia.
1940 - Já depois de algumas alterações, foi construído o passadiço que faz a ligação das entradas entre as ruas de Alexandre Braga e de Sá da Bandeira. Com as presentes obras será removido.
1984 - Começa a ser equacionada a necessidade de uma reabilitação profunda, quando os serviços municipais detetaram deficiências construtivas graves nos pavimentos do mercado.
1992 - O projeto de reabilitação do mercado da autoria do arquiteto Joaquim Massena foi aprovado, por unanimidade, e ficou a aguardar a execução. Acabou abandonado.
2006 - A autarquia lança um concurso público internacional para a conceção, construção e exploração do Bolhão.
2018 - A 1 de maio, o mercado fechou as portas para entrar em restauro. A empreitada foi consignada oficialmente a 15 de maio de 2018, prevendo-se, à data, um prazo de dois anos para a conclusão dos trabalhos.
2019 - Em dezembro, a Autarquia anunciou que as obras de requalificação, cujo término estava previsto para maio de 2020, iriam ser prolongadas por mais um ano, devido à necessidade de alterar "o método construtivo".
2020 - A alteração foi aprovada em 27 de março, pela Direção-Geral do Património Cultural e implica "o desmonte de alguns elementos metálicos e a demolição de três das quatro lajes existentes de betão das galerias superiores do mercado".