<p>Aos 72 anos, Ramiro Relhas é o mais antigo pescador em actividade na pequena localidade piscatória da Foz do Sabor, no concelho de Torre de Moncorvo. É a única aldeia em Trás-os-Montes onde existe actividade piscatória.</p>
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Ao comando do seu velho barco rabelo, depressa se nota a afinidade de Ramiro com as águas do rio.
Apesar de, actualmente, serem pouco mais de meia dúzia os pescadores no activo, ao longo de varias gerações, a pesca foi a principal forma de sustento de famílias que residiam naquela localidade ribeirinha. Toda a gente tinha pescadores e "peixeiros" na família. Apesar de localizada em pleno vale da Vilariça, uma das regiões mais férteis do país em termos agrícolas, a Foz do Sabor foi e ainda é a única aldeia de tradição piscatória na região trasmontana, já que a confluência dos rios Douro e Sabor fazem daquele rincão um local de excelência para pescar.
"Já pesco desde os 11 anos. Aqui o peixe aparecia com fartura. Os pescadores faziam-se ao rio no intuito de trazer a maior quantidade de peixe no menor espaço de tempo para depois o comercializar um pouco por toda a região ", conta o velho pescador.
Apesar da emigração ter levado muita gente para fora da aldeia, alguns continuaram a resistir e garantem que "ainda há muitas espécies de peixe", ora bogas, barbos, ou achigãs, todas elas muito apreciadas. " Antes da construção das barragens no Douro, havia peixe de outras espécie, o rio corria mais baixo, o que permitia a pesca de enguia, sável, lampreia ou tainha, agora aparecem pouco", asseguram os pescadores.
Com a quantidade e qualidade do peixe pescado nas águas da Foz do Sabor, a gastronomia ganhou igualmente importância turística e económica, já que são muitas a pessoas que procuram as famosas migas de peixe ou peixinhos do rio assados ou fritos.
A cem metros das margens do Douro, com uma vista única sobre a foz, fica um dos mais antigos estabelecimentos da aldeia que ainda se dedica à confecção de verdadeiros "petiscos" confeccionados à base de peixinhos do rio.
" Aqui vem gente de muito longe para comer os peixes do rio e as migas. A qualidade do peixe é boa, depois há o segredo do tempero, que é feito com ervas que crescem ao longo das margens", assegura Aurora Soares, proprietária do restaurante "Beira Rio".
Com o início das obras de construção da barragem do Baixo Sabor há quem acredite que haverá mais barcos a entrarem nas águas, já que se espera que aumente a procura de pratos de peixe por aquelas paragens.