O abrigo animal da "Tarecos & Patudos", em Labruge, Vila do Conde, ganhou mais 10 dias para arranjar uma família para os seis cães e três gatos que ainda lá moram. A juíza foi sensível aos argumentos da providência cautelar interposta no Tribunal Administrativo e Fiscal (TAF) do Porto e, esta quarta-feira de manhã, a retirada forçada acabou por não se concretizar.
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A associação não entende como é que mesma a Câmara, que sempre apoiou a "Tarecos & Patudos" e chegou mesmo a enviar-lhes animais por falta de espaço no canil municipal, agora é quem quer fechar o abrigo.
"Deram-nos mais 10 dias para retirar os animais todos", diz a presidente da "Tarecos & Patudos". Desde o dia 15 que Liliana Oliveira vive "com o coração nas mãos". O Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) admite que os animais são bem tratados, mas diz que há risco de incêndio e mandou fechar o abrigo. A Câmara está empenhada em dar cumprimento à decisão.
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No espaço, num terreno privado, numa pequena zona florestal entre campos de milho, erguido por voluntários há quatro anos e meio, há jaulas para cães, uma "casa" para gatos, parque de diversões e recreio. Cães e gatos brincam, passeiam, são bem alimentados e limpos todos os dias. A maioria veio da rua.
"A gente não percebe nada de leis, nem de política. Nós percebemos em cuidar deles. Agora, se é por política? Não sei. A solução ideal, para nós, era mesmo ficar aqui. Este sítio é ótimo para eles. É ao ar livre, eles correm, brincam", atira Liliana, olhando as jaulas e sem conseguir conter as lágrimas.
Da Câmara, garante, sempre foram "parceiro", receberam o subsídio anual e a garantia de que "iam legalizar o abrigo". Agora, tudo mudou.
"É uma situação injusta. Nós estamos aqui há quatro anos, sempre recebemos apoio da Câmara, sempre nos preocupamos em dar as melhores condições aos animais. Para nós é muito angustiante e revoltante", diz Márcia Silva, uma das voluntárias do abrigo.
Nos últimos dias, tem-se desdobrado em contactos e publicações no Instagram para arranjar casa para todos os seus "meninos". "Temos gente de Setúbal e até do Algarve a querer ajudar", explica, sorrindo. Em dois dias, arranjou casa para oito cães e cinco gatos. Agora, faltam sobretudo "os menos sociáveis" e, para esses, "é sempre mais difícil". Anita é cheia de medos e uma das que continua sem casa, Safira só queria uma velhice tranquila e o Pateta, quatro anos depois, já convive, mas ainda não aceita uma festa.
"Idealmente, era serem entregues a pessoas com experiência de treino e socialização de animais. E, depois, com tempo e paciência, irem para uma família", remata Márcia, que recusa baixar os braços e já pensa em "começar do zero, a erguer um novo abrigo de raiz".