Dezenas de toxicodependentes vivem em tendas na zona Fluvial/Pasteleira, no Porto. População fala em roubos constantes. Sala de chuto ainda por abrir.
Corpo do artigo
À primeira vista, parece uma zona campista ou o acampamento de um normal festival de verão, mas é o abrigo de dezenas de toxicodependentes que, com a criação da primeira sala de consumo assistido do Porto, ainda por abrir, deixaram a Viela dos Mortos e instalaram-se ali, junto à Rua de Diogo Botelho. A população das urbanizações em redor anda assustada e fala em roubos diários, em insalubridade e teme pela sua segurança.
"Esta malta estava inicialmente no antigo Bairro do Aleixo, depois foram para junto do muro de Serralves, na Pasteleira, e agora estão aqui. Tudo o que apanham levam. Roubam no interior de viaturas e a pessoas quando as apanham distraídas", refere José Aguiar, que reside nas Condominhas.
São dezenas as tendas montadas na zona verde sobranceira à Rua de Diogo Botelho, entre a bomba de gasolina e a Escola 1.º Ciclo/Jardim de infância das Condominhas. Descer as escadas desde a Rua de Âncora é passar por um cenário de degradação, com pessoas a injetarem-se e a fumar droga, e ver dejetos pelos degraus.
"O maior problema é a insegurança, porque os roubos são uma constante, para além desta má imagem que se cria da cidade. Muitas vezes os turistas tiram fotos, mas eles vêm logo a correr e levam-lhe as máquinas fotográficas e os telemóveis", diz um morador.
O acampamento serve para os toxicodependentes pernoitarem junto ao local onde adquirem o estupefaciente. Entram pela Rua de Dom João de Mascarenhas até ao cruzamento com a Rua da Pasteleira, onde o tráfico origina rusgas policiais e detenções frequentes. Aquando da reportagem do JN, a PSP que patrulhava o local deteve dois homens por roubo na via pública.
Sala de chuto fechada
Mais acima, na Rua de 25 de Julho e junto à viela onde anteriormente se encontrava o acampamento, está a unidade amovível que será a primeira sala de chuto do Porto. O contentor está vazio e é guardado por um segurança. "Isto é um problema que nunca terá solução, mas a sala poderá ser uma forma de os manter mais sossegados e de não haver tanta insegurança", refere Maria Clara Calisto, residente no local.
A sala de consumo assistido foi instalada pela Câmara do Porto e entregue em junho ao consórcio "Um Porto seguro", liderado pela Agência Piaget para o Desenvolvimento (APDES). Ainda não está totalmente equipada e a data da sua abertura ainda está por definir, como explicou ao JN fonte da instituição.
CÂMARA
Mais de cem toneladas de lixo recolhidas desde janeiro
Desde o início do ano, e através do projeto "Porto, Cidade Sem Droga", a Câmara já recolheu mais de cem toneladas de resíduos relacionados com pessoas sem-abrigo e/ou relacionadas com o consumo de drogas em várias zonas da cidade. De acordo com a Autarquia, a Polícia Municipal, juntamente com a PSP, "tem realizado várias intervenções semanais no atual acampamento, cujo número de tendas é muito inferior relativamente àquelas que existiam na Viela dos Mortos". Por cada ação, que pressupõe a limpeza e higienização do espaço, são retirados muitos quilos de resíduos. Estas intervenções são realizadas de segunda a domingo por elementos do Departamento Municipal de Espaços Verdes e Gestão de Infraestruturas em articulação com a Polícia Municipal. Uma vez por semana, recolhem-se objetos de maior dimensão (tendas, barracas, etc.). Os restantes dias são focados na recolha de resíduos menores e potencialmente contaminados.