O episódio repete-se todos os dias. Um grupo de indivíduos, que se concentra na Rua das Flores, essencialmente entre a Rua dos Caldeireiros e a Rua de Afonso Martins Alho, no Porto, passa as tardes a abordar quem por ali passeia, tentando vender "marijuana, haxixe e cocaína".
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Apesar de, afinal, o produto não passar de "loureiro ou outro material não ilícito", conforme diz a Câmara do Porto, a presença dos indivíduos tem aumentado nos últimos tempos, com o regresso do turismo à cidade, criando um clima de insegurança na artéria. Os comerciantes dizem que são mais de dez homens. A Câmara está a par do problema e a PSP diz estar atenta.
Há ainda outros indivíduos que adotam a mesma estratégia noutros pontos da cidade, como é o caso da Praça da Liberdade, junto à estátua do ardina e na zona da Estação de S. Bento.
Apesar de alguns garantirem não se sentir ameaçados, todos os lojistas com quem o JN falou pediram anonimato por receio de represálias, apelando no entanto à denúncia da situação. Sobre as posturas da Polícia Municipal e PSP, há, entre os empresários, quem peça uma maior presença das autoridades por considerar que isso "espantava o grupo".
Até porque, esclarecem, é isso que se verifica. "Mal aparece um carro da Polícia, desaparecem", relata um dos comerciantes da Rua das Flores. "Eles são muitos, mas há sempre um que fica a vigiar", afirma, acrescentando que o grupo adotou palavras de código e até mesmo assobios que soam em tom de alerta, caso as autoridades estejam próximas do local.
Autarquia admite problema
A Câmara do Porto assegura que a Polícia Municipal "tem conhecimento da problemática referida e, em articulação com a PSP, tem reforçado, no âmbito do seu planeamento operacional, o policiamento nas artérias em causa, no sentido de dissuadir as práticas denunciadas".
No entanto, acrescenta a Autarquia, como a prática do grupo não é crime, uma vez que "o suposto produto estupefaciente não se trata de uma substância ilícita, mas de folhas de loureiro ou outro material não ilícito", e sendo que a atuação policial "assenta na apreensão do produto e no levantamento do respetivo procedimento contraordenacional", o grupo não é multado, identificado ou detido.
A principal preocupação entre os comerciantes é o efeito que o clima de insegurança tem nos possíveis clientes, que acabam por ser afugentados.
"Quando abordam alguém e a pessoa mostra interesse, levam-na para outro sítio. Aqui não vendem nada. Só tentam encontrar clientes. Por isso é que a Polícia, que quando andava à paisana os revistou algumas vezes, nunca encontrou nada", explica outro comerciante, que já desconfiava que não vendiam droga.
Para comemorar os 500 anos da Rua das Flores, que foi construída em 1521, a Universidade do Porto vai realizar um colóquio de reflexão e estudo nos dias 11, 12 e 13 de novembro sobre o "papel da rua na estrutura e na imagem urbana".
Grupo da estação de S. Bento atuava na movida do Porto
Na movida do Porto, junto aos Clérigos, antes da pandemia o cenário era idêntico. Tal como o JN noticiou em julho de 2019, um grupo de 20 homens abordava, de forma incisiva, quem por lá se divertia à noite, aliciando com "droga" que afinal era loureiro. Aliás, a PSP tinha já confirmado que esse mesmo grupo, que já tinha sido identificado, atuava junto à estação de S. Bento, no Porto. Com o desconfinamento e regresso do turismo, muitos terão procurado novos locais da cidade para continuar com o esquema e a Rua das Flores, onde o problema já existia, mas que se agudizou nos últimos meses, será um deles.