Pura desatenção. As autoridades acreditam que este pode ser o motivo que levou duas amigas, de 13 e 15 anos, a serem colhidas mortalmente por um Alfa Pendular, esta quarta-feira, junto à estação ferroviária de Alverca do Ribatejo.
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Oriundas dos bairros sociais da Quinta do Lavrado e Armador, em Lisboa, as adolescentes caminhavam pela linha 1 (Lisboa-Azambuja), onde a circulação dos comboios de velocidade elevada se faz no sentido contrário ao habitual. Quando se aperceberam da composição ainda terão tentado reagir, mas em breves segundos acabaram desfeitas com o impacto.
O acidente ocorreu às 16.15 horas, quando o Alfa com destino a Braga, que havia partido do Oriente seis minutos antes, já atingia uma marcha rápida.
Segundo Ernestina Costa, que aguardava em Alverca pelo comboio das 16.20 horas, com destino a Sintra, as duas menores teriam saltado a vedação da estação a 500 metros, por debaixo de uma pequena ponte que dá acesso às OGMA (Oficinas Gerais de Material Aeronáutico).
"Vi aqueles vultos a caminharem e nem liguei, porque achei que era falta de tino a mais. O Alfa, quando surgiu a uns 100 metros, buzinou imenso e a miúda que vinha do lado esquerdo ainda tentou reagir. Puxou a outra. Mas, aquilo, foi tão rápido....", contou, ao JN, a utente da CP, que acabou por ficar na estação.
O Alfa só conseguiu parar a 1700 metros depois. Enquanto que uma das vítimas foi projetada a um enorme distância, a outra embateu contra a bifurcação da linha 1 e 2.
Inicialmente, além da teoria de suicídio, as autoridades imaginaram tratar-se de uma mãe acompanhada da filha, já que a primeira teria a identificação de uma mulher de 30 anos e a segunda de uma menor de 13 anos. Todavia, já durante a noite, percebeu-se que a vítima de 15 anos teria rumado a Alverca com a documentação da progenitora.
Por deslindar, estavam os motivos que levaram as adolescentes a estarem a 30 quilómetros dos bairros onde viviam, que são considerados os mais perigosos de Lisboa. Aliás, esta quarta-feira à noite, foi uma das poucas vezes, em muito tempo, que o enorme pedregulho colocado por moradores no acesso à Quinta do Lavrado não estava no local.
Ao JN, António Lemos, dirigente do Sindicato Ferroviário da Revisão Comercial Itinerante, que viajava na primeira carruagem, garantiu que "seria impossível travar algo como o Alfa em poucos metros". "Mas percebi o que se tinha passado, porque se sentiu algo por debaixo". O comboio só saiu de Alverca pelas 17.45 horas.