Há cada vez mais empresas que abrem as portas a talento jovem no verão. Estudantes enriquecem currículos e conquistam vagas no mercado do trabalho.
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São estudantes universitários bem-sucedidos e, só por isso, mereceriam aproveitar o verão para descansar. Só que não. Preferem adiar as idas à praia com os amigos para os fins de semana e as saídas à noite para outra altura. Bruno e Luana fazem ainda o esforço de vestir roupa mais formal - fato, gravata e tacões - embora confessem sentir "falta" das sapatilhas. É o primeiro contacto com a realidade, em que deixam a teoria aprendida da universidade e lhes são confiados casos práticos. Inês e Rodrigo ainda são pagos por isso. Quem passa o mês de agosto a trabalhar acumula experiência que ajuda a conseguir um emprego. E cada vez mais empresas captam dessa forma talentos precoces. Mesmo que a contratação não seja imediata, o aluno fica sinalizado.
Critical - "Fonte de recrutamento do que é novidade"
Desde a fundação, há 12 anos, que a Critical Manufacturing, empresa sediada na Maia e reconhecida internacionalmente por criar soluções de software para a indústria, prima por ter as portas abertas a jovens estudantes. "É uma coisa muito natural", diz Liliana Macedo, gerente de Recursos Humanos, explicando que além de este ser "um setor de atividade muito desafiante, onde é comum haver guerra de talento", os estágios acabam por tornar-se "numa fonte de recrutamento de tudo o que é novidade".
Nesta 12.ª edição dos estágios de verão, que soma já 150 participantes no currículo, a Critical abriu portas a 20 estudantes. Inês Gaspar, 21 anos, e Rodrigo Ribeiro, 20 anos, ambos da Maia e do curso de Engenharia Informática, esboçam um sorriso de quem, logo no primeiro contacto com o mercado de trabalho, tem a certeza de que "é isto" que quer fazer "para o resto da vida".
A empresa, que disponibiliza diariamente aos trabalhadores fruta, sopa, diversos tipo de pão, fiambre, queijo, além de massagens uma vez por mês, rapidamente se torna num parque de diversões. Com a mais-valia de ao fim das oito semanas de estágio, Inês e Rodrigo receberem 500 euros.
"Já tinha feito um estágio numa empresa, mas este está a ser diferente para melhor", comenta Inês, que enveredou pela Engenharia Informática, por ter "muitas saídas profissionais". A estudante, que vai ingressar no segundo ano de mestrado, fala com o entusiasmo de estar "a desenvolver um produto que vai ser implementado".
Rodrigo destaca "que a experiência está a correr muito bem" e salienta o facto de se sentir "integrado na equipa". "Todos importam", acrescenta.
Já sobre as idas à praia, os jovens não se mostram preocupados por agora só poderem acontecer "aos fins de semana".
Dower Lay Firm - "Oportunidade de contactar com a realidade"
Agosto é, por norma, o mês mais parado no universo da advocacia, por conta das férias judiciais. A Dower Law Firm, com um dos escritórios na Rua de Antero de Quental, no Porto, aproveita a ocasião para abrir as portas aos estágios de verão. Miguel Cunha Machado, um dos três sócios do escritório, explicou que "as férias judiciais têm o senão dos estagiários não terem diligências fora, mas, por outro lado, acaba por haver mais tempo para serem orientados".
Das 150 candidaturas recebidas, foram selecionadas 12 estudantes, que atualmente estão a frequentar o segundo, terceiro e quarto anos da licenciatura. "Neste estágio, os futuros advogados têm uma oportunidade única de contactar, no terreno, com as mais diversas áreas de especialização do Direito", conta Miguel Cunha Machado.
Para Bruno Santos, 20 anos, e Luana Gomes, 22, dois dos escolhidos, o único ponto negativo a apontar é o estágio "só durar 15 dias". Tudo o resto é "muito gratificante".
Luana, que terminou a licenciatura com uma média de 15 - "o que é muito bom, porque em Direito não há vintes", sublinhou o advogado -, recorda-se que ficou em "êxtase" quando lhe ligaram a dizer que tinha sido aceite no estágio. "Já tinha mandado imensos currículos, sem ter qualquer resposta". A futura advogada desabafa que a experiência está a ser "muito diferente" daquilo que tinha imaginado. "Aqui temos a oportunidade de contactar com a realidade. Na faculdade, os casos são sempre do António e da Berta, A e B, enquanto que, na realidade, constatamos que as pessoas têm mais problemas".
Também Bruno, que até colocou Direito como terceira opção aquando do ingresso no Ensino Superior - no Secundário, pensava que queria seguir Medicina -, elogia "a possibilidade de estar a trabalhar nas mesmas salas que os advogados". "Dão-nos atenção e puxam-nos os limites", frisa. Daí que o jovem não tenha dúvidas: "O estágio de verão está a superar as expectativas".
E nem o facto de terem de apresentar-se com trajes formais faz pensar em desistir da experiência. "Não posso negar que sinto falta dos calções e das sapatilhas, mas gosto muito de andar assim", admite Bruno. Também as sapatilhas fazem falta a Luana. A jovem admite, porém, que se sente "elegante".
Miguel Cunha Machado explica que, no estágio de verão, a lógica é, na primeira semana, os estagiários tomarem conhecimento dos diferentes departamentos do escritório e, na segunda, incidirem sobre a sua área de preferência". Bruno sorri e conclui: "Afinal, os estagiários não servem só para tirar cafés e fotocópias".
Detalhes
Dower Law Firm
Durante quatro semanas (há um grupo novo a cada 15 dias), os alunos têm contacto com as diferentes áreas do Direito. Estão previstas também várias formações internas. Um dos objetivos é aproximar a academia da prática da advocacia.
Critical
O programa de estágios da Critical Manufacturing arranca com "um pedido de propostas às várias áreas da empresa", em que os jovens candidatos, através de vídeos, explicam porque querem concorrer aos estágios. A experiência dura dois meses e é paga.