Agricultores do Baixo Mondego e da Gândara pernoitaram junto à Direcção Regional de Agricultura do Centro, em Coimbra, e preparam-se para rumar ao Governo Civil da cidade.
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"Dormimos aqui todos. Uns dentro dos tractores, outros nas carrinhas e no alpendre. Foi uma noite agradável na medida em que deu para um bocado de conversa e isto é sempre importante que as pessoas dialoguem umas com as outras para saber problemas que os afectam", contou à Agência Lusa o presidente da Associação dos Orizicultores do Baixo Mondego, Carlos Laranjeira.
"Agora vamos fazer uma ou duas intervenções aqui junto à Direcção Regional e depois vamos pela baixa da cidade rumo às portagens e aí faremos intervenção de fundo e seguiremos num grupo que promoveu esta contestação até ao Governo civil entregar uma síntese dos problemas que afectam os agricultores", disse.
"Explosão social" em Setembro
Na segunda-feira, os agricultores do Baixo Mondego e da Gândara desfilaram na Avenida Fernão Magalhães, em Coimbra, com mais de 170 trabalhadores e máquinas agrícolas.
Os agricultores protestam contra a crise no sector leiteiro, arroz, batata e milho, concretamente a redução dos preços ao produtor e as dificuldades no escoamento dos produtos e antecipam uma situação de "explosão social" em Setembro.
Isménio Oliveira, da Associação Distrital de Agricultores do Centro e da Confederação Nacional da Agricultura, disse na segunda-feira que a "a situação é gravíssima", com sectores de produção "numa situação muito complicada, nomeadamente a batata, o leite, e o arroz também, que também se espera vir a sofrer grandes problemas no final do ano".
"Todas as semanas há gente que está a abandonar a produção de leite, os preços estão a descer quase mensalmente e o Governo e o Ministério da Agricultura não intervêm, não fazem absolutamente nada e assobiam para o lado, dizendo que é o mercado. Mas para apoiar os grandes banqueiros em dificuldades já não é mercado", frisou o dirigente.
O presidente da Cooperativa Agrícola de Bebedouro, no concelho de Montemor-o-Velho, José Marques, acusa o sector da distribuição de se preocupar "pura e simplesmente em vender barato", através de uma concorrência entre eles que "está a destruir completamente o tecido produtivo".
No futuro, antevê, "vão ser os próprios consumidores a pagar esta factura".
O Governo foi o principal visado do protesto, nomeadamente o ministro da Agricultura, Jaime Silva, caricaturado de Pinóquio nas camisolas dos contestatários e apelidado de "mentiroso".