Já há quem lhe chame a "fronteira de Águas Santas". Os utilizadores da ponte do Brás Oleiro, na Maia, vão ter de aguentar mais dois meses para a conclusão das obras, que foram alargadas para trabalhos complementares. Os moradores falam do transtorno diário provocado pelo corte da Rua de D. Afonso Henriques, usada todos os dias por milhares de condutores e pelos transportes públicos. A conclusão da empreitada tinha sido anunciada para final de fevereiro, mas o novo prazo, agora, é o início de maio.
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"Isto obriga-nos a uma logística gigante até para fazer pequenas coisas do dia a dia. É frustrante". O desabafo é de Odete Pinto, mas espelha o pensamento da maioria. Segundo a moradora, o corte na Rua D. Afonso Henriques "já é visto como uma fronteira que divide a população". "Naquele lado da ponte é uma vida. Neste é outra", denuncia Odete. "Eu ainda vou morrer primeiro e isto não está acabado", ironizou uma idosa.
O cenário na zona envolvente à ponte é de confusão. Desde os caminhos estreitos alternativos para carros e autocarros, até à exígua passagem para peões, onde duas pessoas mal conseguem cruzar-se.
Dos relatos feitos ao JN no local, foi comum em todos a mesma crítica: "Não vejo ninguém a trabalhar aqui". "É revoltante, porque isto é um incómodo muito grande e cada vez que aqui passo nunca vejo as obras a decorrer na ponte. Assim o atraso não surpreende ninguém", declarou Fonseca de Almeida, residente.
O presidente da Câmara da Maia, António Silva Tiago, explicou ao JN que "o funcionamento da via férrea causou alguns transtornos na realização das obras". A alternativa passou por trabalhos durante a noite, "enquanto a corrente elétrica nas catenárias de alta tensão estava desligada", acrescentou.
O autarca relembrou que a ponte estava em iminente ruína. "Era uma bomba-relógio. Se não fosse agora, podíamos não evitar uma desgraça", sublinhou.
Instabilidade
O arquiteto Pedro Tiago, um dos responsáveis pela obra, revelou ao JN que, durante os trabalhos, as equipas verificaram instabilidade na estrutura, não identificada nas sondagens prévias.
O problema estava "na perfuração das estacas e houve a necessidade de reforçar a amarração da ponte". Por esse motivo, as equipas tiveram de substituir as estacas iniciais por microestacas, que proporcionam mais segurança para as intervenções. As obras estão a ser feitas de forma faseada e um dos lados já foi concluído. A partir desta semana, os utilizadores já vão poder passar na parte concluída, enquanto as equipas requalificam o lado da ponte que falta.
Motas continuam a utilizar passagem para peões
Conforme o JN noticiou anteriormente, há motociclistas que utilizam a via destinada aos peões na zona das obras para evitarem trajetos maiores.
Na altura, os residentes denunciaram o transtorno e o perigo dos motociclos usarem aquele espaço estreito. Inclusive, havia pessoas que tinham de voltar para trás e dar prioridade às motas. Entretanto, foram colocados sinais de proibição para os motociclistas, "mas não surtem efeito nenhum", referem os moradores. "Continuam a passar e não respeitam as pessoas. Além disso, não há ninguém vigilante", denunciou Susana Paíga, funcionária na creche "O Amanhã da Criança", junto ao viaduto.