<p>Nem Portugal nem os países europeus conhecem bem as situações de potencial risco de cheia. Até 2015, deverão ter elaboradas cartas, mas nem todos os problemas serão mapeados ou antecipados. É o caso das inundações torrenciais ou os acidentes nas encostas.</p>
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"Seria uma enorme hipocrisia da minha parte estar a dar nota de que somos conhecedores das situações de risco", reconhece o presidente do Instituto da Água (INAG). "Podemos ser conhecedores de um pré-mapeamento das áreas inundáveis (nos planos directores municipais - PDM), mas é necessário fazer uma avaliação muito precisa", disse Orlando Borges ao JN.
Mas, sustenta, "não conhecemos nós, nem conhecem muitos países", como parece ter demonstrado a sucessão de 100 grandes inundações registadas na Europa entre 1998 e 2007, causando 400 mortos, meio milhão de deslocados e 25 mil milhões de prejuízos. Por isso a União aprovou, em 2007, uma directiva sobre avaliação e gestão de riscos de inundações.
A directiva, que está em fase final de transposição para o Direito português, obriga a elaborar até 2015 planos de gestão (ver "ficha" sobre etapas) mas Portugal tem algum trabalho feito desde as cheias de 1983 que causaram uma dezena de mortes na bacia do Tejo, com o levantamento cartográfico de áreas adjacentes inundáveis na área metropolitana de Lisboa, no Zêzere e na veiga de Chaves. Imediatamente a seguir, vieram os PDM, que são obrigados a definir as zonas inundáveis em função da informação disponível. O próprio INAG desenvolveu informação própria.
Aprofundar conhecimento
Toda essa informação, que está a ser sistematizada, é ainda insuficiente. Em 1983, nas inundações do Tejo, por exemplo, não se conhecia bem a ocupação do território, a obstrução das linhas de água, ribeiras canalizadas com secções de vazante insuficientes. Embora menor, nomeadamente naquela zona, o desconhecimento mantém-se, reconhece o presidente do INAG.
É necessário fazer levantamentos rigorosos, elaborar modelos hidrológicos, estudar afluências, impermeabilizações, obstruções, sobretudo em bacias de grande torrencialidade, como a do Tejo, onde morreram 400 pessoas em 1967.
A torrencialidade é um problema. "Podemos avisar Tomar que vai ter cheias com sete ou oito horas de antecedência, ou gerir o Rio Tejo com 12 horas de avanço, mas, no caso de cheias torrenciais repentinas em Lisboa não é praticamente possível ter um sistema de alerta, porque ocorrem poucos minutos depois da precipitação", explica.
Embora convicto de que a directiva representa um grande avanço, Orlando Borges sublinha que "o risco nunca é nulo". E refere mais uma vez as cheias do Tejo de 1983 que estudou bem (foi o seu primeiro trabalho para o INAG como geógrafo), para destacar os acidentes devidos a fenómenos associados, como a instabilidade das vertentes. "Parte das pessoas morreu em acidentes a meio da encosta". Como na Madeira.