Preço subiu 15%, muito menos que os custos, para não perder mercado. Empresários reclamam redução do IVA.
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Quando se fala de Mirandela, a ligação à alheira é espontânea. O enchido - produzido à base de ingredientes como carnes de porco e de aves, azeite e pão de trigo - acabou por se transformar numa imagem de marca e em negócio de milhões. Ainda assim, os empresários pedem a redução do IVA.
"É uma fileira cujo volume de negócios se aproxima dos 40 milhões de euros anuais, que conta com cinco empresas certificadas para produzir alheira de Mirandela IGP" (indicação geográfica protegida), "mais de 20 cozinhas regionais e outras tantas lojas de produtos tradicionais, que representam 500 postos de trabalho, diretos e indiretos", revela Vítor Correia, vereador na Câmara de Mirandela, que organiza este fim de semana a feira da alheira (ver caixa).
Desde a eleição da alheira de Mirandela como uma das sete maravilhas da gastronomia portuguesa, em 2011, a fileira tem crescido a olhos vistos. No ano passado, apurou o JN, as cinco maiores empresas do setor venderam mais de 14 milhões de alheiras. "Além dessa distinção, o facto de vários chefs de prestígio terem incluído nas suas ementas a alheira de Mirandela veio dar maior visibilidade ao produto", afirma Tiago Ribeiro, gerente das "Alheiras Angelina", no mercado há 29 anos e que conta com 32 funcionários.
E nem a pandemia penalizou o setor. "A explicação pode estar relacionada com o facto de ser um produto barato e de qualidade. Um quilo de alheiras, que ronda os cinco euros, pode ser suficiente para a refeição de uma família de quatro pessoas", lembra Tiago Ribeiro.
Ainda assim, o empresário não esconde que a escalada da subida dos preços das matérias-primas, no último ano, afetou o setor. "O cereal que utilizamos para o pão passou de 295 euros a tonelada para 640 euros. A galinha aumentou mais de 30%, a carne de porco passou de 1,5 euros para 2,5 euros e a matéria de alumínio, que é o clip que leva a alheira, subiu 40%", conta.
No entanto, as empresas não fizeram refletir esse aumento no preço final ao consumidor. "Subimos em cerca de 15%, porque temos a noção que seria incomportável para as famílias pagar mais do que isso, sob pena de termos uma enorme redução na procura do produto", sustenta Tiago Ribeiro.
Querem imposto menor
E para que a situação não venha a agravar-se, os empresários do setor reivindicam a redução da taxa do IVA para os 13%, em vez dos 23% atuais. "Pagamos cerca de 90% das matérias-primas a uma taxa de 6% e depois vendemos a alheira a 23%, o que tem um impacto brutal no preço final", afirma.
Tiago Ribeiro diz que seria uma medida sensata. "Choca-me ir a um ginásio e pagar uma taxa de 6% e para comer uma alheira é de 23. É um absurdo", conclui.
Fim de semana
Feira regressa com 110 expositores
A Feira da Alheira de Mirandela já não acontecia desde 2020, devido à pandemia. Três anos depois, está de regresso, entre hoje e domingo, com 110 expositores. A principal novidade prende-se com a expansão da área da feira. "O centro da festa continua a ser no Parque do Império, onde se concentra a zona comercial, a restauração e os espetáculos. Na zona pedonal fica a área do artesanato, enquanto nos jardins do Mercado Municipal há a Feira à Moda Antiga, com tabernas e muita animação", adianta Vítor Correia.
Emprego
500 postos de trabalho
foram criados pelas empresas produtoras certificadas, cozinhas regionais e lojas que vendem o enchido (abertas todos os dias).
Muita gente de todo o país e de Espanha
A Feira da Alheira de Mirandela, com mais de duas décadas, é apresentada como "um dos maiores eventos da região" e atrai público de todos os pontos do país, e da vizinha Espanha".