Em nove meses mais de 13 mil passageiros passaram pela nova estação do comboio. Muitos deles são portugueses.
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Se a revolução ainda não aconteceu na fronteira, em Puebla de Sanábria, Espanha, há mudanças assinaláveis graças à abertura da estação do comboio de alta velocidade (AV) em Otero. Segundo a Delegación de Comunicación de Renfe de Castilla y León, Galicia y Asturias, entre o dia 23 de julho de 2021 (data da inauguração) e abril deste ano, mais de 13 mil passageiros passaram por aquele ponto de embarque. Muitos são portugueses, até porque Bragança é agora a cidade nacional mais próxima de Madrid.
A entidade espanhola não quis revelar a percentagem de portugueses que usou este transporte, porém o presidente da Câmara de Bragança, Hernâni Dias, tem conhecimento que muitos brigantinos "aproveitam a alta velocidade para viajar". A cidade transmontana está a 44 quilómetros de distância, ainda que a estrada via Rio de Onor seja sinuosa e demore uma hora a percorrer.
Aliás, o autarca está convencido de que só não há mais turistas a aproveitar o AV para viajar devido à falta de uma boa infraestrutura rodoviária. "Quando os visitantes chegam a Puebla e querem vir para Bragança têm dificuldades porque a ligação é pouco compatível com os níveis de conforto e a rapidez que são exigidos e as coisas ficam mais limitadas", explica Hernâni Dias.
O certo é que a capital de Espanha está agora a 1.50 horas da Puebla e a menos de três horas de Bragança. "É um tirinho. Tão rápido que mal dá para apreciar a viagem", garante Vicente Moran, lojista no centro aquele município da província de Zamora.
Os comerciantes vão notando as mudanças. "Há mais turistas, sobretudo, em datas nomeadas como a Semana Santa, fins de semana com pontes e nas férias", enumera Vicente Moran, que se baseia no movimento que vê nas ruas, nos restaurantes e no maior número de entradas na sua loja.
Vantagens e lacunas
"É mais visível desde que temos o AV, mas ainda é recente e faltam infraestruturas. A estação não tem bar e só há um táxi na praça", salienta o comerciante convencido de que com o tempo a alta velocidade ""trará progresso à fronteira".
José Maria Ferrero, ex-político, acredita no potencial da alta velocidade. "Vêm e vão turistas. Dos que saem aqui de Sanábria muitos são vizinhos de Trás-os-Montes. É vantajoso para toda esta zona transfronteiriça. O progresso está aqui, só temos de o aproveitar ", salienta José, que sempre que se desloca a Madrid, vai de comboio, não esquecendo que o distrito de Bragança tem 130 mil habitantes.
Também satisfeito, Angel Soares, reformado, é de opinião que a estação devia ser em Puebla e não em Otero. "Já tínhamos cá a antiga construída, bastava que a modernizassem", defende. Já Gorete Afonso, uma portuguesa a residir em Puebla, conta que "as pessoas andam encantadas com a proximidade de Madrid".
Pormenores
Mais cara e aberta com dois anos de atraso
A estação de Otero sofreu alguns reveses desde o lançamento até à construção. A obra foi lançada em 2017 por 5,1 milhões de euros e adjudicada em junho de 2018 por mais de nove milhões. Era para estar concluída até ao verão de 2019, mas só foi inaugurada em julho de 2021.
Falta sinalética
Em Puebla de Sanábria praticamente não há placas indicativas da estação do comboio de alta velocidade, nem à entrada, nem no centro da localidade. A única visível encontra-se já depois de ter passado toda a aldeia de Otero, praticamente em cima da estação.
Estrada melhorada
A ligação de Bragança a Puebla de Sanábria, em Espanha, já está contratualizada entre a Estrutura de Missão Recuperar Portugal e a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte. Vai avançar com perfil de "estrada melhorada" e com 16 milhões de euros de investimento.