Fernando Pereira é finalista do curso de Engenharia Têxtil e cumpriu o sonho de vestir o traje académico.
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"O meu sonho é vestir o traje da universidade e receber as insígnias do curso", disse ao JN Fernando França Pereira, aluno de Engenharia Têxtil na Universidade do Minho. E, aos 78 anos, o estudante mais velho da academia minhota está prestes a realizar o sonho de uma vida. "Até já podia ter recebido as insígnias este ano, mas como me faltam terminar algumas cadeiras, quero receber o diploma com tudo feito", explicou.
Natural de Gondomar, viveu em Moçambique, mas, "há muitos anos" que vive em Vizela. Com três filhas, todas licenciadas, e cinco netos o objetivo de Fernando é mostrar, através do exemplo, que "vale a pena estudar, independentemente da idade".
Oriundo de uma família pobre, com sete irmãos, fez a 4ª classe e foi continuando a estudar "sempre que a vida permitiu". No Porto, fez o nono ano e em Guimarães, na Escola Secundária Francisco de Holanda, concluiu o secundário. Em 2011/2012, conclui o Curso de Preparação para Maiores de 23 anos e no ano seguinte ingressou em Estatística Aplicada. "Fiz algumas disciplinas, mas não era o que eu queria e mudei para Engenharia Têxtil".
Com problemas de saúde e a pandemia pelo meio, Fernando lá foi fazendo as cadeiras. Mesmo sem aulas, passa o dia na universidade. "Sinto-me muito bem aqui, o ambiente é saudável e tenho bom relacionamento com professores e alunos. Venho para aqui diariamente porque em casa não consigo estudar".
Estudar em grupo
O estágio está a ser feito à segunda-feira numa empresa de Vizela e está a "correr muito bem". A única queixa é com o pouco tempo que passa com os colegas mais novos. "Eu não vou às festas académicas nem faço a vida que eles fazem", diz, a sorrir. A falta dos colegas é sentida, sobretudo na hora de estudar para os exames.
"O estudo em grupo é mais produtivo e eu, normalmente, estudo sozinho", frisa. "Sabe como é, sinto a falta de um grupo de rapazes e raparigas da minha idade", graceja.
Contudo, o estudante quer que o seu exemplo seja seguido por outros. "Nunca é tarde para estudar. É possível e a universidade recebe-nos de braços abertos", finaliza.
Casado por correspondência
Começou a trabalhar com 10 anos, em oficinas à volta dos negócios de ourivesaria, mas não gostou. Aos 14, um tio levou-o para uma loja de ferragens, no Porto, e aos 20 foi para Moçambique. Viveu 11 anos em África, casou "por correspondência" e, mais tarde, duas das suas três filhas nasceram naquele país. Em 1975 regressou a Portugal estabeleceu-se em Vizela. Não mais voltou a África.
