Projeto-piloto melhora raciocínio e aprendizagem na escola. Mentores querem que faça parte do ensino obrigatório nacional
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Os alunos do 1º Ciclo do Agrupamento de Escolas Miguel Torga, em Bragança, estão a iniciar a aprendizagem em ciências da computação para melhorar o raciocínio, a aprendizagem de matemática e de português, ao abrigo de uma iniciativa inovadora a nível nacional que abrange seis agrupamentos do país.
“Nesta fase os alunos ainda não estão a trabalhar com o computador, porque se pretende que primeiro percebam como ‘pensa’ um computador e como se comunica. Trabalham com um caderno quadriculado para descobrir como funciona”, explicou Ana Teixeira, uma de 45 professores que andam pelas escolas a lecionar as matérias e que o JN acompanhou na Escola Básica Miguel Torga com duas turmas do 1º e 2º ano.
A aula serviu para ensinar o sistema do escrita Braile e com ela desvendarem a história do menino Max, cego, e da fada Ária, que só fala com computadores. O objetivo é que ambos comunicassem em Braile e as crianças tinham de ajudar a traduzir para português e vice-versa. “Para adquirirem uma maior abstração. Por exemplo, hoje estivemos a falar de matrizes binárias através de histórias e de fadas, porque são crianças ainda muito pequenas. Desta forma simples e divertida conseguem perceber como funciona o pensamento computacional e a programação funcional. Porque o computador não é só carregar nas teclas, por trás disso há muitas linguagens que eles precisam de perceber como funcionam”, acrescentou a professora.
Trata-se do projeto ZERO1, uma proposta da ENSICO- Associação para o Ensino da Computação, uma organização sem fins lucrativos, que quer chegar a mais de 3000 alunos no próximo ano.
O pensamento computacional inclui a abstração, a decomposição, o reconhecimento de padrões, a análise de algoritmos e o desenvolvimento de processos, de forma integrada, contribuindo para uma melhor capacidade de aprendizagem de outras matérias. “Eu gosto de descobrir as letras e decifrar os códigos”, diz Filipe, de sete anos. Também Santiago, da mesma turma, confessa que gosta desta forma de aprendizagem com recurso a projeções e a trabalhos. “É mais engraçado”, admitiu.
Ansiosas pelas aulas
Pelo que contou a professora Zita, docente do 1º ano, as crianças estão sempre muito ansiosas pelas aulas da professora Ana, que acontecem de 15 em 15 dias. “Estamos a trabalhar sobre a história de uma rapariga que não sabe falar porque estava num ecrã, como veio para o mundo e temos que tentar falar com ela através de um quadro”, explicou o Manuel, seis anos.
A diretora do Agrupamento Miguel Torga, Fátima Fernandes, afirma que aceitaram participar no projeto “porque é interessante para os alunos desenvolver mais competências, nomeadamente porque lhes traz uma nova linguagem que lhes pode abrir novos horizontes para raciocinar”.
Privilegiando a intervenção em zonas geograficamente descentralizadas e com maiores desafios socioeconómicos, o segundo ano de implementação do Projeto ZER01, abrange 54 turmas do primeiro e segundo ciclo, em 13 escolas dos Agrupamentos de Arcos de Valdevez, Bragança, Gondomar, Vila do Conde, Mirandela e São João da Pesqueira, triplicando o número de alunos face ao ano passado.
“A nossa meta é que o ensino da computação venha a fazer parte do ensino obrigatório em Portugal e no nosso plano de ação está o de iniciar todo o processo sem depender do Ministério da Educação, com a máximo de liberdade para criar um programa curricular de raiz juntando parceiros fortes”, indicou Luís Neves, presidente da ENSICO.
O projeto inclui também a formação certificada de professores das escolas. Este ano letivo está prevista a formação de 45, licenciados em Matemática e Educação Básica.