A dona do lar de idosos que a GNR encerrou, anteontem, quarta-feira, em Cantanhede, pode vir a cumprir até cinco anos de prisão por abandono de seis utentes e pagar multa até dez mil euros devido ao exercício, já reincidente, de actividade não licenciada pela Segurança Social.
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"O que encontrámos ontem [anteontem] no apartamento, na povoação de Arrôtas, freguesia da Pocariça (Cantanhede), foi um cenário deplorável e triste que já não seria de esperar nos dias de hoje. Muito menos tendo como responsável a mesma pessoa a quem fechámos, em tempos, um outro lar igualmente ilegal em Amoreira da Gândara (Anadia) e um outro na Mamarrosa (Oliveira do Bairro). Pelos vistos, a senhora não aprendeu a lição. Pode ser que seja desta, para bem de todos", desabafou ontem, ao JN, uma fonte da Segurança Social, lamentando aquilo a que chamou de "aproveitamento das fragilidades humanas".
Segundo fonte policial, a GNR foi chamada a intervir, de madrugada, após uns vizinhos do lar terem ouvido gritos de uma idosa a pedir socorro. As seis utentes, todas com mais de 70 anos e uma delas acamada, estariam, como seria costume, entregues a si próprias. Uma delas, a que se vez ouvir na vizinhança, estaria desorientada face ao intenso calor libertado por um aquecedor.
A GNR, com a ajuda dos Bombeiros de Cantanhede, forçou a entrada nas instalações e deparou-se com uma casa sem condições para acolher idosos, apresentando um cheiro forte a urina.
Fonte da Segurança Social disse ao JN que as senhoras não tinham noção de quantas vezes tomavam banho por mês. Algumas teriam dito que apenas uma/duas vezes. "Havia uma senhora brasileira que tomava conta, apenas durante o dia, das idosas. Mas ao final da tarde ia embora e deixava-as abandonadas até à manhã do dia seguinte. Já imaginou onde é que a utente acamada fazia as suas necessidades? É inacreditável!", afirmou a mesma fonte.
A GNR e a Segurança Social já entregaram relatórios ao Ministério Público (MP), cabendo agora a este formalizar eventual queixa-crime contra a dona do lar, uma mulher de 33 anos, residente na freguesia de Covões, Cantanhede. Para justificar a denúncia, Edmundo Martinho, presidente do Instituto da Segurança Social, lembrou que "as idosas estavam sem cuidados de higiene, médicos e de enfermagem".
"Nós não perseguimos ninguém, mas vamos estar muito atentos a esta senhora. Só abrirá novo espaço, legalizado, se provar que tem condições", assegurou fonte da Segurança Social.
O JN tentou obter um comentário da proprietária do lar, mas sem êxito.