Começou esta semana a procura de uma resposta definitiva à suspeita de que terão sido depositados resíduos perigosos na escombreira das minas de carvão de S. Pedro da Cova, em Gondomar. Amostras de solo recolhidas vão revelar, em Janeiro, o que lá existe.
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Desde segunda-feira que uma equipa de propecção, contratada pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional Norte (CCDR-N), e sob a supervisão técnica do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), recolhe amostras do solo a vários níveis de profundidade no terreno da antiga escombreira.
O objectivo é descobrir a quantidade de resíduos ali depositados, provenientes da antiga fábrica da Siderurgia Nacional, na Maia, e fazer uma caracterização físico-química dos mesmos.
A CCDR-N, a entidade que detém a autoridade regional ao nível do ambiente, decidiu levar a cabo "uma operação de clarificação total" das suspeitas levantadas sobre este processo de aterro, realizado entre 2001 e 2002.
São inertes ou resíduos perigosos? São menos de 100 mil toneladas ou mais de 300 mil? Os resultados das análises, que serão avalizadas por dois laboratórios diferentes, deverão ser conhecidos nos primeiros dias de Janeiro.
"Não temos qualquer certeza quanto à natureza dos resíduos ali depositados", disse, ao JN, o vice-presidente da CCDR-N, Paulo Gomes.
Foram definidos 20 pontos de amostragem no terreno de 11 mil metros quadrados (pouco mais que o espaço ocupado por um campo de futebol), de modo a obter uma malha apertada de informação sobre a composição do solo.
A colheita de amostras deverá decorrer até meados de Novembro, seguindo-se a análise laboratorial.
Os materiais que se encontram no subsolo da escombreira - eles próprios já debaixo de entulhos de construção e demolição feitos posteriormente, clandestinos -, são resíduos industriais.
Quando a Siderurgia Nacional foi privatizada, em 1995, havia milhares de toneladas de lixo industrial a remover dos terrenos.
Era um acumulado ao longo de 20 anos, onde se misturavam filamentos de aço, zinco, cobre, escória de aciaria, escamas de laminagem, restos de refractários e lixo fabril incaracterístico.
Estiveram ao ar livre entre 1976 e 1996, período durante o qual, através da lixiviação, se terão transformado em inertes.
Disso declarou estar convencida a Urbindústria - Sociedade de Urbanização e Infraestruturação de Imóveis (empresa do universo Parpública), que ficou responsável pela remoção dos resíduos, adjudicada a uma empresa privada.
Entre Maio de 2001 e Março de 2002, milhares de toneladas foram levadas para a escombreira de S. Pedro da Cova, na altura, um enorme buraco.
Em 2002, o PCP levantou suspeitas sobre a natureza dos resíduos, apresentando análises que revelaram a presença de crómio e de chumbo nas águas subterrâneas. A pedido das autoridades do Ambiente, foram feitas análises aos materiais ainda depositados na Siderurgia Nacional, que concluíram tratar-se de inertes.
O transporte foi interrompido, por terem sido detectadas irregularidades durante uma inspecção da Direcção Regional do Ambiente e Ordenamento do Território do Norte. Descobriu-se material depositado em local indevido, fora da escombreira, e também que a quantidade transportada fora muito maior do a que tinha sido declarada.
Oficialmente, teriam sido removidos 97,5 mil toneladas, mas há indícios que poderão ter sido depositadas 320 mil toneladas na escombreira de S. Pedro da Cova. Tal foi confirmado na sentença de um Tribunal Arbitral, que analisou um processo da Siderurgia Nacional contra a Urbindústria, acusando-a se não ter realizado o transporte da totalidade dos resíduos.