A venda suscitou a polémica entre as forças políticas representadas na Autarquia portuense quando a Universidade do Porto resolveu, há quase três anos, vender o antigo Colégio Almeida Garrett.
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A Câmara do Porto não exerceu o direito de preferência, mas a intenção dos novos proprietários em preservar o imóvel e de transformar o interior em apartamentos sossegou a opinião pública. O antigo colégio terá contudo mudado de mãos e agora uma empresa britânica quer ali instalar uma unidade hoteleira.
Na Câmara de Porto existem dois pedidos em apreciação. Um de licenciamento para habitação, que aguarda pela apresentação de todos os projetos de especialidade, tendo já sido aprovado o projeto de arquitetura. E um pedido de informação prévia (PIP) para instalação de uma unidade hoteleira de três estrelas com 240 quartos, e de habitação no edifício a reabilitar na frente urbana da travessa de Cedofeita, com oito fogos de tipologia T0. De acordo com a Autarquia, "o processo ainda se encontra a decorrer, não havendo ainda uma proposta de decisão".
Crise instalada
"Confirma-se que o PS tinha inteira razão quando propôs que a Câmara utilizasse o seu direito de preferência na aquisição daquele imóvel", afirma Manuel Pizarro, vereador do PS, para quem "em cada momento, a maioria municipal mostra não ter compreendido a gravidade da crise de acesso à habitação que está instalada na cidade, que atinge as famílias com menos recursos, mas também as classe média e os jovens".
Também Ilda Figueiredo contesta que "património do Estado continue a ser alienado a favor de interesses que pouco beneficiam os portuenses". A vereadora da CDU reconhece que os montantes atingidos nas hastas públicas são elevados mas considera que "devia haver negociação com a Autarquia para que imóveis como o do colégio, como as antigas instalações da Faculdade de Farmácia ou da Segurança Social possam ser aproveitados para residência de estudantes ou habitação para jovens".
Também o social-democrata Álvaro Almeida, que na altura até esteve ao lado da maioria mostrando oposição "à utilização sistemática do direito de preferência", vê agora com preocupação "o facto do "turismo ter uma ação dominante na cidade em detrimento de outras atividades".
Em hasta pública, o concurso foi ganho pela Real Douro, Promoção e Gestão Imobiliária (do Grupo Ferreira Holding), com uma oferta de 6,1 milhões de euros. Contudo, na Autarquia o pedido para habitação pertence à empresa Redarea, Real Estate Developer e o de hotel ao grupo Qbic Hotel.
Pormenores
61 anos de ensino - O colégio funcionou entre 1914 e 1975. Foi frequentado por Sá Carneiro, pelos ex-ministros Valente de Oliveira e Mário Sottomayor Cardia, pelo escritor Mário Cláudio e por Pinto da Costa, presidente do F. C. Porto.
Uso universitário - Nas últimas décadas, recebeu diversas valências da Faculdade de Engenharia da UP e, mais recentemente, as atividades da Academia Contemporânea do Espetáculo (ACE) e do Teatro Universitário do Porto (TUP).
Em pleno centro - Localizado na Praça Coronel Pacheco, em plena Baixa, o imóvel está inserido num terreno com uma área total de 8520 metros quadrados.