Mais de duas dezenas de antigos moradores do bairro de S. Vicente de Paulo, no Porto, que começou a ser demolido em 2007, concentram-se este sábado no terreno onde estavam as suas antigas casas, mostrando estar contra a construção naquele mesmo sítio de uma urbanização de 232 fogos de arrendamento acessível.
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Dos moradores que viviam nas 13 ruas que compunham o antigo bairro de S. Vicente de Paulo, na freguesia de Campanhã, apenas dois ficaram nas imediações, no atual conjunto habitacional com o mesmo nome. Mário Couto, 67 anos, foi um deles, que nasceu ali. Há 12 anos, recusou-se a ir embora. "O terreno foi dado para serem construídas casas para os pobres, por isso, não concordo com a intenção do Executivo, liderado por Rui Moreira, de aqui construir casas para os ricos. Os pobres também têm direito a olhar para o rio", desabafou, este sábado num encontro que juntou antigos moradores que contestam o projeto que a Câmara do Porto tem para o local e que não passa pelo realojamento das antigas famílias.
Maria José Barbosa, 42 anos, que há 17 foi viver para o bairro Machado Vaz, também em Campanhã, desabafou ao JN que se sente "enganada". "Tivemos de sair porque as antigas casas foram abaixo. Se vão fazer umas novas, temos de ter prioridade de vir para aqui. O doutor Rui Moreira tem de nos dar as nossas casas para voltarmos a ser felizes. Não é expulsar-nos daqui para fora", disse a antiga moradora.
Para Maria José "não faz sentido as habitações serem com rendas acessíveis" e defende que "os preços praticados devem ser conforme os rendimentos de cada família"
Também Telmo Guerra, 30 anos, fala da "injustiça" que estão a cometer. "Saí para o bairro de Fernão Magalhães, mas o ambiente é diferente. Aqui éramos todos uma família".
Ilda Figueiredo, vereadora da CDU na Câmara do Porto, também esteve no local e contou aos antigos moradores que foi "confrontada" com a proposta do Município "na última reunião de Câmara e foi uma enorme surpresa e revolta" que votou contra o projeto. "Isto afronta os antigos moradores", vincou.
De acordo com a vereadora", a Autarquia "não só não quer construir casas para renda apoiada, como não quer construir, entregando o terreno a um grupo económico privado". "Vi hoje [ontem] a resposta do presidente Rui Moreira a dizer: 'Os moradores podem concorrer à renda acessível'. Ou ele vive no meio da lua ou só vive no meio dos ricos e não percebe nada do que é o rendimento da maior parte das famílias da cidade".
Já Rui Sá, deputado da CDU na Assembleia Municipal, também presente no encontro, recordou que o processo do antigo bairro de S. Vicente Paulo "começou em 2005", numa altura em que "o doutor Rui Rio tinha como objetivo ir deixando isto vazio, como fez no Aleixo, porque achava que as vistas eram para os ricos e não para os pobres".
A abertura do concurso público internacional para urbanização e construção das casas de arrendamento acessível foi aprovada na última reunião do Executivo, com os votos contra da CDU e PS, estando agendada para esta segunda-feira a votação da proposta na Assembleia Municipal.