Censos 2021 revelam fraca adesão ao transporte público no núcleo da Área Metropolitana. Mudança depende de investimentos estruturais.
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Porto, Gaia, Gondomar e Matosinhos. É entre estes quatro municípios que estão concentrados os principais movimentos pendulares do anel central da Área Metropolitana do Porto (AMP). Só o Porto, de acordo com os dados dos Censos 2021, divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), recebe diariamente 172 920 pessoas. Destas, mais de 30 mil vivem em Gaia e 24 mil em Gondomar. Por outro lado, o maior número de portuenses que saem do município para trabalhar ou estudar dirige-se para Matosinhos (7890). Ainda assim, a maior fatia de população que entra neste concelho parte da Maia.
Transversal a todas estas deslocações está a eleição do carro como meio de transporte preferido, seja como condutor ou passageiro - há mais de 382 mil pessoas a viajar de automóvel no Grande Porto. Aliás, mais de metade das viagens entre Gaia e Porto fazem-se de automóvel. Por outro lado, são os portuenses quem mais utiliza os transportes públicos: metro e autocarro.
Quanto ao tempo das viagens, dos seis concelhos do Grande Porto as mais longas são as dos gondomarenses, cuja duração média, segundo o INE, é de 23,45 minutos. Segue-se Valongo, com 22,08 minutos, e Gaia, com 21,88 minutos. É em Matosinhos que o tempo médio das deslocações pendulares é menor: 19,66 minutos.
Particularizando o caso do Porto, das sete freguesias do concelho, são os residentes em Campanhã que demoram mais na deslocação entre a casa e o trabalho: em média, 22,73 minutos.
Ainda no que diz respeito às sete freguesias do Porto, é em Paranhos onde se regista um maior movimento de saída para outros municípios para trabalhar ou estudar. Do anel central da AMP, é também no Porto onde a população anda mais a pé. O fenómeno é mais evidente na União de Freguesias do Centro Histórico, mas também pode explicar-se pela grande fatia de pessoas a viver e trabalhar no próprio concelho.
Para Álvaro Costa, engenheiro especialista em transportes, este será um comportamento "cada vez mais adotado": "À medida que o espaço urbano melhora, andar a pé vai ganhar competitividade".
Rede congestionada
A forte utilização do carro na AMP explica-se com o facto de "a rede de transportes coletivos estar bloqueada", existindo um problema particular "na ligação entre o Porto e Gaia", já que a "Linha Amarela está congestionada". A essa afluência soma-se o semelhante entupimento das vias rodoviárias entre os dois concelhos que, ainda assim, "oferecem melhor performance".
"Para haver uma mudança em dez anos, tem de haver muito investimento", alerta, dando o exemplo da "linha estrutural" que será o segundo traçado do metro entre o Porto e Gaia. "A Linha Rubi vai ter um efeito estrutural na rede. Vai introduzir competitividade de tempo em relação ao carro" e terá, garante Álvaro Costa, um "efeito visível no trânsito". "Haverá um bom interface [com o comboio] nas Devesas. O de General Torres não é bom. Atualmente, é difícil chegar de comboio e transferir para a Linha Amarela", observa. O especialista garante até que quem costumava utilizar o comboio até Gaia "voltou a transferir-se para o carro". "Se o transporte público não for conveniente, é óbvio que as pessoas escolhem o carro", assevera.
Mais deslocações
Gondomar
Entre quem trabalha no Porto e vive num dos outros cinco municípios do anel da AMP, o autocarro é mais utilizado pelos gondomarenses (6640).
Matosinhos
Os matosinhenses que trabalham ou estudam no Porto utilizam mais o carro, como passageiro (3966).
Gaia
Dos movimentos entre Porto e Gaia, os gaienses preferem o carro, como condutor, para as deslocações (16 791) ou o metro (5257).
Pormenores
33 791 de Gaia para o Porto
Dos residentes em Gaia, 33 791 trabalham ou estudam no Porto. A segunda maior deslocação de Gaia (dentro do núcleo da AMP), é para Matosinhos: 5562. A terceira, a Maia: 4561.
19,22 minutos
A duração média mais curta das pendularidades no Porto é na União de Freguesias de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde: 19,22 minutos.
61 409 andam de carro
De acordo com os Censos 2021, há 61 409 deslocações de carro (condutor ou passageiro), de trabalhadores ou estudantes a viver no Porto.