Campanhã é a freguesia do Porto onde o tempo médio das deslocações é maior. População queixa-se do trânsito.
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Com os olhos postos na janela da mercearia, Amílcar Marinho não tem dificuldade em traçar um rápido diagnóstico. É quarta-feira, já passa das 18 horas e começa a chuviscar. O trânsito no Porto intensifica-se. Com a caixa registadora à sua esquerda, o comerciante de 53 anos garante que, da fila de carros que está a formar-se desde as 17.30 horas na Rua do Freixo, em Campanhã, logo a seguir à Rua do Heroísmo, consegue contar pelos dedos das mãos os automóveis que transportam alguém além do próprio condutor: "Basta olhar lá para fora. Todos os dias são assim. Às sextas-feiras é pior, tanto para entrar como sair da cidade."
Campanhã é, das sete freguesias do Porto, e de acordo com os dados dos Censos 2021, aquela onde o tempo médio de deslocação é maior: 22,73 minutos.
Rui Costa confirma o cenário descrito por Amílcar: "Nas horas de ponta, é complicado. Às vezes, demoro um quarto de hora ou mais só para sair daqui". Para o taxista de 59 anos, à espera de clientes em frente à praça da estação de comboios de Campanhã, a intensidade do trânsito que se sente naquela zona, já servida por "muitos transportes", justifica-se "pelo conforto" em circular no próprio carro. "A verdade é que, tanto de manhã como ao fim da tarde, é um pandemónio", garante.
"Povo é comodista"
Numa paragem de autocarros na Avenida de Fernão de Magalhães, em frente à Loja do Cidadão, está Olga Mirancos. Para a passageira, o "comodismo" é também um dos principais causadores do trânsito, observa, enquanto se forma atrás de si uma extensa fila de carros para entrar na VCI.
"Há muitas pessoas que andam sozinhas dentro de um carro. Acho que o povo português é muito comodista", nota, admitindo que a atual rede de transportes também poderá não ser atrativa.
"Se me atrasar dez ou 15 minutos, o trânsito fica caótico. Vivo em Lordelo, Paredes, e demoro entre 17 e 20 minutos a chegar à VCI. A partir daí, às vezes demoro o mesmo ou mais só a fazer três ou quatro quilómetros", queixa-se Amílcar. Luís Miguel Barreto, eletricista que vive em Rio Tinto, Gondomar, acrescenta: "Do Freixo, é meia hora para chegar cá acima".
Parques para estacionar
O entupimento das ruas do Porto influencia, de igual forma, o serviço de autocarros na cidade. "Há muito trânsito e às vezes estou muito tempo à espera. Queixo-me ao motorista. Digo que perco a minha mocidade à espera do autocarro", brinca Olga, de 59 anos. "Dizem-me sempre que estão na sua hora", reforça.
Para Luís e Amílcar, a solução para a freguesia é simples: usar um terreno "com cerca de dez mil metros quadrados", atrás das churrasqueiras da Rua de Justino Teixeira, e construir um parque de estacionamento. "As pessoas deixavam o carro e seguiam de transporte público", conclui Amílcar.