<p>Aurélia Castanheira tem 45 anos, é doméstica e quer saber desenrascar-se lá fora. Por isso, aderiu às aulas de Inglês e Italiano promovidas, gratuitamente, pela Acção para a Justiça e Paz, em Granja do Ulmeiro, Soure </p>
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Além de Aurélia Castanheira, há mais nove inscritos. Têm acima de 40 anos e conhecimentos nulos nestas línguas. Quiseram voltar a pegar nos lápis, cadernos e fichas de exercícios só para adquirirem noções básicas de conversação. Dizemos bem: quiseram. Porque a iniciativa nasceu da insistência da comunidade. "Destas pessoas, as que puderam estudar, por um motivo ou por outro, não aprofundaram os conhecimentos em línguas. Agora sentem essa necessidade", contextualiza Joana Pombo, dirigente da associação.
E a avaliação tem sido positiva, garante a responsável: "As aulas agradam por serem informais. Eles dizem o que querem saber, mais do que estarmos nós a ditar o programa". A aprendizagem faz-se numa sala colorida, a matéria a leccionar é moldável e a professora não é professora, é uma advogada turca de 26 anos. Melis Mani está na Acção para a Justiça e Paz (AJPaz) desde Outubro, no âmbito do Projecto de Serviço de Voluntariado Europeu, e aí permanecerá até Junho.
Não foi à toa que a turca Melis Mani escolheu fazer voluntariado em Portugal: "É um país que está um pouco isolado da Europa e, por isso, tem uma cultura especial. Queria conhecê-la, e aprender a língua". Parece ter conseguido, a julgar pela facilidade com que dialoga com os alunos, em Português. Sente-se que também recebe algo em troca: "Não é ensinar que me dá satisfação, mas sim estar com eles, falar…".
O intercâmbio cultural acontece a cada momento, como testemunhou o JN. ("'Gift'? Há um grupo musical, português, com esse nome!", dirigiu um aluno à sorridente Melis.) E esse era outro dos objectivos, explicou Joana Pombo, realçando a importância de sensibilizar para a existência de diferentes culturas e línguas".
Aurélia, que fez o 12º ano, mas sempre enveredou pelo Francês, é a primeira a assumir que não espera sair dali "mestre" na língua inglesa. Só quer "ter umas noções", para, em solo não português, poder fazer uma reserva, pedir o prato num restaurante.
Algo semelhante acontece com Jorge Alves, de 57 anos: "Viajo muito, e dá-me jeito saber falar Inglês, quando vou participar em provas de atletismo, ou fazer férias".
António Alberto, reformado de 65 anos, é outro dos inscritos. Não teve oportunidade de estudar a língua, em jovem, por isso decidiu fazê-lo assim que viu as aulas anunciadas em cartazes. Não tem grandes ambições, só uma justificação: "Gosto de aprender sempre".
Também Julieta Rente, doméstica de 51 anos, resolveu ocupar o tempo livre a aprender uma língua de que, simplesmente, gosta. A sua estreia é absoluta. "I don't like… tristezas. Como se diz em Inglês?", pergunta, durante a aula de hora e meia. Melis Mani responde escrevendo no quadro: "sadness". Eis algo que, a existir, fica lá fora - basta observar o entusiasmo da turma.