Arguidos levantam dúvidas a causa da morte de menina

Os primeiros sinais de que visam tentar desacreditar a tese da morte por electrocussão de Micaela Mendes nas festas de La Salette surgiram, ontem, na segunda sessão do julgamento em que são arguidos o proprietário da pista de carrinhos de choque, José Mendes, e o engenheiro electrotécnico António Teixeira.

Confrontado pela juíza titular do processo, o engenheiro que assinou o termo de responsabilidade aferindo as condições eléctricas da pista afirmou ter "dúvidas" que a electrocussão tenha sido a verdadeira causada morte.

Tese distinta

"Não sei houve choque eléctrico", respondeu António Teixeira, defendendo uma tese distinta, ou seja, que a morte pode ter sido provocada por uma descarga de energia estática. "Como acontece quando saímos dos carros" exemplificou. O arguido explicou que o choque de energia estática teria sido potenciado pelo facto da menina estar "descalça e cansada".

Mas, quando foi questionado pelo advogado da família da menina, Carlos Ribas, o engenheiro admitiu que, nos 35 anos que leva como técnico, nunca viu ninguém morrer ou sequer ficar internado por causa da energia estática.

As queimaduras que Micaela Mendes exibia na pele foram justificadas pelo engenheiro como lesões provocadas pelo calor da pista. "A pista estava a uns 60 graus", precisou, apesar de confirmar que não se encontrava no local naquela noite.

Também os advogados das seguradoras que respondem pelo pedido de indemnização solicitado pelos pais da criança começaram a levantar as primeiras dúvidas sobre as causas da morte. Referiram-se em concreto às alegadas contradições entre a certidão de óbito e o relatório da autópsia. No primeiro documento é referido que a morte ficou a dever-se a paragem cardio-respiratória por "causa indeterminada", enquanto que o segundo aponta como causa de morte a electrocussão.