Se é verdade que o diabo anda à solta esta sexta-feira por ser dia 24 de agosto, em Ponte da Barca ele já se manifestou durante esta madrugada, com a ajuda de centenas de concertinas e castanholas que milhares de pessoas rodearam a cantar e dançar durante a noite mais longa da Romaria de S. Bartolomeu.
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Este ano, 40 rusgas oriundas de freguesias do concelho, da região norte e das comunidades emigrantes invadiram literalmente as ruas da pacata vila do Alto Minho causando uma estúrdia que durou até raiar o dia.
As rusgas concentraram-se em frente à Câmara Municipal antes de começarem as atuações que este ano aconteceram em quatro palcos espalhados pela vila para que a festa oxigenasse ainda mais todas as ruas e ruelas de Ponte da Barca. Em apenas três minutos, os grupos tinham que mostrar o que valiam e era nesta altura que parecia que o diabo dava um ar da sua graça no dedilhar rápido dos botões das concertinas, nas sacudidelas enérgicas das castanholas e nas vozes altas e arteiras.
Desde pequena que Marina Reis vem à noite das rusgas de S. Bartolomeu. Com 37 anos e de cavaquinho em punho, Marina era a líder da rusga de Vila Nova de Muía. "Estamos pelo menos 30 aqui, mas ainda temos mais pessoas a chegar só que estão perdidos no trânsito", dizia, segundos depois de a rusga ter feito a primeira atuação da noite no palco da feira de artesanato. "O S. Bartolomeu para nós significa tudo. Estamos sempre à espera deste dia das festas porque andamos todo o dia a cantar e dançar. Ficamos cá até as pernas aguentarem", acrescentou Manuel Silva, de 57 anos.
Com quase 40 pessoas, a rusga de Touvedos tinha o presidente da Junta, António Brito, como líder que corroborava a opinião de Manuel. "Parece que passamos o ano à espera que chegue este dia porque é uma festa com muita alegria. Neste dia esquecem-se as zangas", assegurou o autarca, já a caminho da terceira atuação da noite no palco instalado no Jardim dos Poetas. Logo atrás seguia a cantadeira deste grupo, que mostrou uma potência na voz que só as mulheres do Alto Minho têm. "Canto nesta rusga desde que ela nasceu e para manter a voz assim afinada como muitos feijões", explicou, a gargalhar, Rosa Cerqueira, 52 anos.
Criada há dez anos, a rusga da Japoneira é composta essencialmente por jovens oriundos de Lavradas e algumas freguesias vizinhas. O nome foi dado pela semelhança entre as palavras "japoneira" e "borracheira". "Fiz esta rusga quando tinha 18 anos e neste momento somos quase 50 jovens", contou André Abreu, enquanto a rusga fazia uma pausa para hidratar as gargantas.
No final das atuações oficiais, as rusgas receberam uma cesta com um presunto e um garrafão de vinho para lhes dar genica durante o resto da noite, mas foi a recriação do Café Pinante que se revelou um sucesso entre as pessoas das rusgas e os visitantes. "A história do Café Pinante só é revelada daqui a nove meses", disse um dos figurantes envolvidos na recriação, aludindo às décadas de 40 e 50 em que a Romaria apadrinhava namoros e histórias de amor.
Enquanto se servia o Café Pinante, os responsáveis da organização da festa, orçada em cerca de 250 mil euros, já traçavam um balanço positivo, considerando que a espontaneidade que a caracteriza foi ainda mais evidente este ano.
Esta sexta-feira, a Romaria de S. Bartolomeu termina dando ênfase às celebrações religiosas em honra do santo. Pela noite dentro a animação ainda continua com bandas de música, festival de folclore, cantares ao desafio e fogo de artifício.