Estruturas asseguram alimentos, roupa, mas também proporcionam às comunidades prática de desporto e serviços como ATL e infantário.
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Mais do que estruturas identitárias e agregadoras, as associações de moradores dos bairros podem mudar a vida das comunidades onde atuam. Ou, pelo menos, ajudar a atenuar as dificuldades. Seja com apoios a nível alimentar ou de vestuário, através da promoção do desporto ou da criação de valências como ATL ou infantários, estas organizações multiplicam-se em esforços para fazer a diferença na vida de quem habita as zonas mais desfavorecidas das cidades.
Porto
Em Aldoar, Esmeralda tenta valer a todos
Esmeralda leva as mãos à cabeça. Cruza-as sobre o peito, logo a seguir. Os olhos ficam húmidos e a voz sai-lhe num abafo soluçado. É mulher decidida e guerreira de várias batalhas, mas por estes dias vive em aflição. Verte o desespero num gesticular frenético dos braços, a apontar para o que falta, para o que é preciso fazer, para o que clama intervenção camarária, como as humidades que fazem "as casas parecerem túneis, de tão escuras".
"Às vezes, dá vontade de abandonar tudo", atira, enquanto as contas de cabeça entre o deve e o haver dão sempre saldo negativo. E a porta da associação de moradores, no Bloco 9 do Bairro de Aldoar, no Porto, não fica nem 15 minutos fechada: há sempre gente a bater ali, a pedir. As contas avolumam-se e, com o café fechado, não entra dinheiro. "Só dou o que me dão, que eu não tenho nada para dar. Nós também estamos mal", lamenta-se a presidente da organização, que vai acudindo ao que pode: distribui comida e roupa, auxilia um morador debilitado que até já acompanhou ao hospital, fez da sede um ATL no primeiro confinamento...
É meio da tarde, e José Moreira chega mais cedo do que o previsto. Esmeralda Mateus larga um sorriso e corre a buscar as refeições, ajudada por moradoras idosas. O dono do Bar Bermelho, em Lavra, Matosinhos, ficou com o negócio parado à custa do confinamento e decidiu confecionar refeições para dar a carenciados, a partir de bens doados. "Está com o bar fechado e anda a pedir para nós", agradece Esmeralda, que distribui essa ajuda alimentar por cerca de 20 famílias.
Gaia
Várias valências ajudam em Vila d'Este
Do outro lado do Douro, em Gaia, também se apoia com entrega de alimentos os moradores mais necessitados da Vila d"Este. E todos os outros, com os serviços em que se desdobra o esforço da Associação dos Proprietários da Urbanização Vila d"Este, Instituição Particular de Solidariedade Social nascida há 18 anos para servir uma comunidade de perto de 17 mil pessoas.
Desde as ajudas à natação, passando pelas várias atividades para os seniores - aprender inglês ou noções básicas de informática e fazer ginástica ou trabalhos manuais são apenas algumas -, até ao apoio psicossocial, auxílio às vítimas de violência doméstica e acolhimento de refugiados, os serviços são mais do que muitos. "A gente está aqui para ajudar", lembra a vice-presidente da associação, Júlia Ferraz, que vive num frenesim diário para recolher os bens alimentares que depois são doados a quem mais precisa.
"Nós fazemos a diferença, porque estamos focados em várias valências. E mais faríamos, se houvesse condições", diz a presidente da associação, Preciosa Cunha, que lembra que a instituição precisa de malta jovem na Direção, para inovar: "Os alicerces já estão; agora, é só fazer qualquer coisa diferente".
Santo Tirso
Ringe vai devolver o infantário à vila
Há duas décadas, ninguém adivinhava que Ringe, o antigo "Iraque" de Vila das Aves e o maior bairro social de Santo Tirso, haveria de tornar-se numa inspiração e num epicentro de serviços sociais cuja área de atuação transpôs as fronteiras daquela zona, outrora problemática, e da própria freguesia.
A escola de futebol alcançou a primeira vitória, ao abrir Ringe - que hoje tem um complexo desportivo - à comunidade e fintar a exclusão dos meninos que ali viviam. E a transformação da Associação de Moradores do Complexo Habitacional de Ringe em IPSS permitiu ir abraçando outros projetos, acabando por nascer ali um ATL, um centro comunitário, um serviço de apoio domiciliário e outro para reinserção de toxicodependentes...
Este ano, a instituição conseguiu outro feito: devolver às Aves o infantário que encerrara em 2016. Quem primeiro agarrou no projeto foi o antigo líder da associação, Joaquim Faria, que entretanto se tornou autarca local, e, agora, é André Sampaio quem lhe dá continuidade. "Isto é o que faz mais falta à vila. Não há nenhum infantário cá, e temos de colocar as crianças fora da freguesia", recorda o recém-empossado presidente da instituição, que quer ainda criar um parque geriátrico no bairro.
Requalificado bairro dos Pescadores
Criada em meados de 2019, a Associação de Moradores do Bairro dos Pescadores, em Matosinhos, envolveu-se no projeto de requalificação do conjunto habitacional, cujas obras arrancaram em fevereiro.
Polidesportivo da Agra do Amial
O polidesportivo do Bairro da Agra do Amial, em Paranhos, no Porto, foi requalificado no ano passado e a Associação Moradores do Bairro da Agra ficou responsável pelo horário de funcionamento do equipamento.