<p>A vila de Prado assinalou esta terça-feira a Feira dos Vinte, também conhecida por Feira dos Burros e Feira das Trocas. Deriva da merca que D. Dinis ali instituiu em 1307 e, sendo a primeira do ano, serve de barómetro aos preços a praticar.</p>
Corpo do artigo
A famigerada crise chegou aos burros. Por cem euros, João Araújo vendeu o burro, mas perdeu "cinco contos", depois de refeitas as contas que levava na algibeira. A crise apoderou-se de todas as áreas e, a tradicional merca não fugia à regra.
"Anda aqui muita gente, mas é só para ver. Comprar ninguém compra porque acham tudo muito caro", dizia Alzira Vale, vendedora de produtos da terra. Mas a Feira dos Vinte é muito mais que uma simples feira de gado cavalar e bovino. É uma referência ao longo de todo o ano, quando a conversa deriva para a brincadeira. "As mulheres costumam dizer aos maridos: deixa vir a Feira dos Vinte que tu vais ver. Quer dizer que o vai trocar, chamando-lhe burro de forma indirecta", explica António Dias, entre a troca, de olhares e risos, com a esposa. Mas Maria Fernandes foge à regra como o diabo da cruz: "já são 43 anos. Agora também não o troco."
No epicentro da discussão voltamos a encontrar João Araújo, desta vez a negociar a venda de outro burro. "Este é corredor. Tem três anos, como pode ver aqui nos dentes", apontava. E, tentando transmitir essa capacidade de apontar a idade através de um simples olhar aos dentes, lá foi explicando o bom João que a mudança nos incisivos é que marca a diferença.
Porque o negócio estava mau "que até os burros sentem a crise" e porque ninguém queria ser confundido, o sorriso era expressão rara, entre contas que se deitavam à vida, na compra de hortaliças e batatas, entrecortadas pelos gritos projectados por amplificadores, apregoando as "roupas mais baratas, baratas, baratas".
Mas nada está barato, como ripostava Maria José Valente, tentando despertar o pequeno filho para as dificuldades da vida. "Não há carrinho nenhum. Vamos mas é para casa que aqui só há tentações para a canalha."
O dia de hoje ainda é dedicado à Feira dos Vinte, altura em que se procede à troca dos burros adquiridos na véspera. Mas a vila anima-se em honra ao mártir São Sebastião. Esta feira é conhecida pela atracção que exerce junto do povo que por ali acorre para fazer a prova do melhor vinho e das papas de sarrabulho que as tascas locais confeccionam.
As movimentações dos comerciantes de gado verificam-se desde a noite de segunda-feira, altura em que se deslocaram ao campo da Feira, para marcar o sobreiro que servirá de ponto de venda na troca do burro.