Autarca de Freixo de Espada à Cinta faz o milagre da multiplicação de presidências
Quantas cadeiras são precisas numa reunião entre o presidente da Câmara de Freixo de Espada à Cinta, o provedor da Misericórdia, o presidente da Adega Cooperativa, o presidente da Assembleia-Geral dos Bombeiros e o dono da Rodonorte? Uma. E não será pelo tempo perdido em cumprimentos que a dita reunião se atrasará - não consta que José Santos ande por aí a falar sozinho. É ele, José Santos, 54 anos, nascido e criado em Freixo de Espada à Cinta, o homem do poder.
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Empresário ligado ao setor dos transportes (Rodonorte, Alfandeguense, Transportes Carrazeda/Vila Flor, Santos Viagens,...), foi-se distinguindo por levantar instituições da penúria e, hoje em dia, manda em quase tudo o que é relevante no pequeno município colado a Espanha.
"Pode haver a ideia de que, por ser presidente da Câmara, quis controlar as outras instituições. Mas foi o inverso. Foram a vivência e os resultados obtidos nas instituições que me empurraram para a Câmara", diz José Santos. "Ser empresário dos transportes há muitos anos dá-me uma grande capacidade de decisão", argumenta o autarca, que não tem papas na língua: "Sou o centro da resolução dos problemas todos". "Tudo se resolve com mais facilidade", observa, consciente de que o protagonismo é proporcional às "invejas" que vai criando. "Um dos 'fantasmas' dos meus adversários é o poder institucional", diz o homem que está a terminar o segundo mandato consecutivo à frente da Autarquia e já anunciou que vai concorrer ao terceiro, de novo pelo PS.
"Aldeia em ponto grande"
"Quando aqui cheguei, Freixo era uma aldeia em ponto grande", recorda. Num município com cerca de quatro mil habitantes e uma população "muito envelhecida", José Santos encontrou uma dívida de 12 milhões de euros (oito milhões de longo prazo; quatro milhões de curto prazo). "Pensei: vou pagar ou aproveitar os fundos comunitários? Vimos as receitas e chegamos à conclusão de que podíamos ir até aos 16 milhões de dívida. Agravámos até ao limite". O objetivo era captar verbas da Europa para dotar o concelho com equipamentos em condições.
E assim fez. Mesmo que para isso tivesse de ir pedir dinheiro a bancos de outras terras - em Freixo, Caixa Geral de Depósitos, BES e Caixa de Crédito Agrícola já não emprestavam um cêntimo ao município. "Fui ao BPI, ao BCP, ao Barclay's... e à Caixa Agrícola de Mogadouro e Vimioso. Com o factoring para a dívida de curto prazo e agravando o passivo em mais quatro milhões, conseguimos investimentos de 45 milhões".
Se pudesse, talvez José Santos reservasse parte do dinheiro para comprar tempo. Os dias deviam ter mais de 24 horas. A jornada começa cedo (nos primeiros tempos como autarca ia às seis da manhã ver os autocarros nas oficinas) e termina lá para as 22.30 horas, quando se deita, depois de passar pelo café.
"Mas às três da manhã já estou a pensar no que vou fazer", assegura José Santos, casado, que ainda teve tempo para três filhos: António José, 24 anos; Ana, 22; e Ema, 9.
Da agonia ao sucesso
Presidente da Adega Cooperativa há 13 anos, promoveu a aquisição da Coopafreixo, cooperativa de iniciativa municipal que estava nas ruas da amargura. Além do vinho - o Montes Ermos é estrela -, a Adega passou a estar no mercado da azeitona, do azeite e da amêndoa. E os produtores começaram a receber a tempo e horas. São cerca de 900 os associados, que viviam em permanente desespero.
É provedor há 20 anos. José Santos encontrou uma instituição na penúria, com valências obsoletas e edifícios degradados. Promoveu a construção de um novo lar, ampliou o centro de dia, abriu jardim de infância, ATL, e lavandaria pública. Fez ainda a maior unidade de cuidados continuados do distrito, que recebe gente de todo o país. Hoje, o património da Misericórdia chega aos cinco milhões de euros.