A Bairrada é como a Borgonha, que tem grandes vinhos, como o Romanée-Coti, mas a produção média é muito má. A opinião é de Luís Lopes, 52 anos, diretor da "Revista de Vinhos", que atribui a fraca qualidade à fragmentação da propriedade (média é meio hectare) e ao erro na estratégia dos produtores.
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"Em vez de seguir as modas internacionais, deviam apostar no caráter de castas como a Bical, Maria Gomes e Cerceal para fazer brancos diferentes, e tirar mais partido da plasticidade da Baga para produzir espumantes. Em vez da quantidade, a Bairrada devia vocacionar-se para a excelência", diz.
Após dar estas pistas que ajudam desvendar o enigma da má imagem dos Bairradas, aponta as exceções que fundamentam a comparação com a Borgonha: os vinhos produzidos por Luís Pato e Mário Sérgio (Quinta das Bágeiras), reverenciados lá fora.
"A Bairrada tem condições fantásticas para produzir vinhos diferentes", garante. Investimentos de gente como Dirk Niepoort, na Quinta de Baixo, e de Carlos Dias, na Colinas de S. Lourenço, levaram-no a acreditar no futuro de uma região, que tem de passar pela aposta de profissionais em pequenas produções de vinhos de nicho.
Descontente por o leitão ter esmagado a gastronomia tradiciconal da Bairrada (de que constavam a chanfana e o arroz de cabidela), escolheu almoçarmos no restaurante de Gonçalo Soares, chef que apesar de ainda novo já teve restaurantes bem-sucedidos em Berlim, Salzburgo e St. Moritz, e começa a dar sinais de arrependimento de ter cedido à pressão da mulher para voltarem a Oliveira do Bairro.
Para casar com as amêijoas, Luís levou um Alvarinho e Contacto 2012, de Anselmo Mendes, e um branco Quinta das Bágeiras 2011 para acompanhar as postas da dourada que pesava 3kg.
"Neste negócio dos vinhos, o que custa são os primeiros 150 anos". Após gracejar, citando Philippe Rothschild, criticou os amadores, que são quase 90% dos agentes económicos do negócio do vinho e ele acusa de serem um entrave ao seu desenvolvimento.
"Produzir é fácil. O dificil é vender. Os supermercados estão inundados de vinhos de amadores que fazem dumping e prejudicam os profissionais, pois para eles vender é um ato sujo, sem glamour", acusa Luís, que nasceu em 1961 (ano de mau vinho em Portugal) e cresceu em Cascais.
Em 1982, andava no 2.oº ano do primeiro curso de jornalismo da Nova de Lisboa (onde foi colega de Inês Pedrosa e Isabel Stilwell), quando começou a trabalhar numa revista de informática. Não tardou a lançar e ser o diretor de uma série de revistas desta área como a "Cérebro" ou a "Correio Informático", num grupo editorial controlado por Luís Oliveira. "Nunca fui um apaixonado pela informática. Mas se soubesse que havia mercado para uma revista de modas e bordados, aprendia a fazer croché", explica.
Foi diversificando até em dezembro de 89 dar à luz a "Revista de Vinhos", com a qual mantém uma afetividade que vai ao ponto de a considerar o seu filho mais velho - a mais nova é a Mariana, que após ter feito Direito em Coimbra está na Nova de Lisboa, onde se prepara para ser o braço-direito do pai numa revista que com uma tiragem de 20 mil exemplares (apenas metade da inglesa "Decanter"!) é a biblia do setor, o equivalente português da "Wine Spectator".
Farto dos engarrafamentos na Marginal e das longas viagens ao Douro, Dão ou Bairrada, resolveu mudar-se para um local mais central. Foi parar a Sangalhos por acaso. Uns amigos falaram-lhe de uma pequena quinta que precisava de obras, ele foi lá, gostou da casa, que tinha cem anos e pertencera a Bento Lopes, um antigo presidente da Câmara da Anadia. Já se passaram 16 anos e ainda lá está, a provar em média 300 vinhos por mês.
"Fui salvo pela informática", reconhece Luís Lopes, que se sente um filho adotivo da região e recorda que nos primeiros tempos, quando ainda não havia banda larga, metia uma disquete e os slides num envelope e mandava o trabalho pelo correio para Lisboa.