<p>A Câmara Municipal de Lamego vai requalificar o Bairro do Castelo, uma das zonas mais turísticas daquela cidade. O objectivo é dignificar as condições de quem lá vive, atrair actividades económicas e, ainda, travar o despovoamento.</p>
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São de três gatos as primeiras almas encontradas à porta do sol, a entrada nascente no bairro. A tarde está amena, há uns raios de sol a escapar à guarda das nuvens, e os três bichanos estendem-se no empedrado a ver se algum lhes lambe o pêlo. Dá para ver que sossego é o que não falta a este bairro, que a autarquia quer "transformar numa zona viva da cidade", diz o presidente Francisco Lopes, sublinhando que essa vida só se consegue se tiver "gente a morar e a trabalhar lá e se for visitado por muitos turistas".
Pela porta do sol acaba de entrar António Monteiro da Silva, mais conhecido por Pina, apelido que era de seu pai mas que, por razões passadas que desconhece, não consta do seu registo. "Mas se não for por Pina ninguém me conhece". E lá sobe a calçada estreita a caminho de casa, a que recentemente deu um jeito. "O problema aqui é que os telhados estão muito estragados, as pessoas não têm dinheiro para os arranjar e vão-se embora", lastima.
Suar as estopinhas
Os gatos levantam-se e sobem a calçada, com andar de veludo, indiferentes, habituados às pessoas que abundam mais no Verão, quando os turistas aceitam suar as estopinhas para subir ao castelo. Pina anda nos 65 anos e também vem cansado. Foi arrumar a carrinha na garagem que tem no lugar do Desterro. "Aqui não dá para ter os carros, por isso, tive de arranjar um lugar para o guardar". Para ir e voltar anda uns bons dois quilómetros a pé. Mas não se importa. "Estou um bocado gordo, portanto, também ajuda a desgastar alguma coisa", sorri. Ter viaturas no bairro do castelo é um problema. As ruas não permitem aparcar. "De vez em quando arranja-se um espacito, mas basta que estorve a alguém e vem logo a Polícia multar. Ao menos os moradores deviam ter autorização para estacionar".
A intervenção da Câmara não conseguirá resolver um problema que os construtores medievais não terão futurado, mas poderá minimizá-lo. "Um pequeno parque de estacionamento daria aqui muito jeito", deseja Luís Filipe, dono de um bar muito movimentado por malta jovem. "Temos de deixar o carro longe e para quem tem crianças é mais complicado", reforça, juntando-se ao senhor Pina noutra crítica: "É de lamentar que o nosso castelo passe tanto tempo encerrado".