Abriu portas como pousada de luxo em frente ao mar, mas, durante mais de uma década, foi discoteca ao ar livre, com entradas selecionadas e um barulho diário que, no verão, tirava do sério quem ali mora.
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A concessão chegou mesmo a estar em risco, mas foi sendo sempre renovada. No início do ano, a Câmara de Vila do Conde voltou a abrir concurso para a concessão do Forte de S. João Batista. Valorizaria a promoção de atividades culturais abertas a todos, a redução do ruído e o regresso do hotel de charme. Agora, o júri propõe que seja o grupo Eskada o vencedor e o Forte de S. João voltará a ser uma discoteca.
A requalificação do Forte de S. João, que reabriu em 2000, foi custeada pelo Fundo de Turismo. Seria uma pousada de luxo, com oito suites, num edifício cheio de história, situado mesmo em cima da praia. Teria um restaurante, um bar, uma praça para pequenos concertos e até um posto de turismo.
Foi "sol de pouca dura". O Forte depressa se transformou numa discoteca ao ar livre, a funcionar quase só no verão, com música alta e muito barulho até de manhã, para desespero de quem mora ali, numa das zonas mais caras da cidade. Ninguém conseguia descansar. Por outro lado, a concessão do imóvel de interesse público obrigava a porta aberta a visitas. Nunca teve. Aliás, à exceção do verão, o imóvel está a maior parte do tempo fechado. Apesar de tudo, a Autarquia foi renovando, o contrato até ao limite, dizendo que a empresa se comprometeu "a minimizar o ruído" e "a fazer as obras" de manutenção. O prazo termina agora.
Concessão por 15 anos
O novo concurso abriu em março. Na altura, ao JN, a autarca dizia: "Fruto da experiência que tivemos, está prevista a valorização das propostas no sentido da boa manutenção daquele património, da promoção de atividades culturais abertas a todos e dos impactos que o equipamento terá naquele território". Na Assembleia Municipal, prometeu valorizar quem trouxesse de volta "mais valências": não só o bar/discoteca, mas o restaurante e o hotel de charme.
Chegaram cinco propostas - grupo Eskada, Romando, Forte na Vila (atual concessionário), Marés do Aterro e Nunca Sonhado. Em causa, uma concessão por 15 anos, a adjudicar à "melhor relação qualidade preço". A qualidade (que valia 60%) medir-se-ia em três parâmetros: devolver o espaço à população (promoção da identidade cultural e artística do concelho e o simbolismo do edifício), valorização do património e redução do impacto das atividades na envolvente. Contas feitas, diz o júri, vence o grupo Eskada.
Com quatro espaços, em Vizela, Porto, Freamunde e Felgueiras, a Feito D'Estrelas propõe-se reabrir o Forte. Quer que seja o quinto espaço de diversão noturna do grupo Eskada. Para começar, fez já parcerias com seis instituições locais e promete eventos para todos os gostos. As oito suites de luxo serão "ateliês de criação de artistas da terra". São dois milhões em 15 anos (650 mil euros no primeiro ano) e uma renda de 5000 euros.
Fim da concessão
A concessão do Forte foi assinada em 2000 por 12 anos, renovável por períodos de dois no máximo até final de maio de 2020. A empresa - Mar ao Forte - foi vendida em 2013. Pedro Mesquita diz que a comprou "afogada em dívidas". Foi com esse argumento - pagar as dívidas e cumprir com as obras de manutenção prometidas - que negociou com a Câmara as sucessivas renovações.
Renda de 5000 euros
A renda do Forte era, até agora, de 1084 euros por mês. Com o novo contrato, a Câmara vai receber cinco mil euros por mês durante os próximos 15 anos.
História da fortaleza
1570: Ano de início da construção do Forte, por ordem de D. Duarte de Portugal. As obras decorreram até 1641. Tem planta pentagonal com baluartes nos vértices. A meio, a praça de armas, à volta as antigas casernas
1967: Imóvel classificado como imóvel de interesse público
1982: Quase abandonado durante todo o século XX, fortaleza entra em obras. A ideia era convertê-la num pequeno hotel de charme. A obra foi cofinanciada pelo Fundo de Turismo
2000: Pousada abre portas a 1 de julho
2018: O JN denuncia incumprimento do contrato de concessão: portas sempre fechadas ao público, pousada que não existe, uma discoteca ao ar livre e um barulho infernal.
2020: Sem possibilidade de prorrogar a concessão, foi aberto novo concurso público para a concessão do Forte de S. João. O júri, constituído por Alberto Laranjeira (jurista e chefe divisão), Marta Miranda (chefe da divisão de Turismo) e Pedro Brochado (arqueólogo municipal), reuniu e sugere a entrega da concessão ao grupo Eskada.