Requalificação do mercado no Porto fica concluída no final do ano, mas comerciantes só voltam em janeiro. Pintura surpreende quem por ali passa.
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São centenas os operários que trabalham na requalificação do Mercado do Bolhão, no Porto, empreitada que ficará concluída antes do Natal, embora os comerciantes instalados no mercado provisório só voltem para as bancas no início de 2022. A causar surpresa está, no entanto, a cor da fachada do edifício, já parcialmente livre de tapumes e andaimes, e que apresenta um tom de saibro granítico que era a original quando o Bolhão foi inaugurado, em 1914.
"Não há registos fotográficos a cores dessa altura nem nenhuma geração ainda viva viu o Bolhão desta cor. Mas não deixa de ser curioso e é algo que já aconteceu quando restauraram o Teatro Nacional S. João, que apareceu com outra cor, dita original, após as obras", explica o jornalista e historiador da cidade Germano Silva.
A Câmara do Porto, dona da obra, explica que "a cor original do Bolhão, do projeto de 1914, procurava reproduzir o granito portuense exposto ao sol". A pesquisa histórica e as sondagens no local "confirmaram a preexistência de uma cor de pedra, ou de saibro de jardim, que impregnava a própria argamassa de revestimento de todas as fachadas do edifício".
Ao mesmo tempo, "a forma como as fachadas são desenhadas, com expressão da pedra trabalhada nos elementos decorativos reproduzindo cantaria de granito, reforça esta intenção mimética" do arquiteto António Correia da Silva, autor do projeto inicial.
Por isso, a cor agora reintroduzida "procura aproximar o edifício desta intenção original e harmonizar o diálogo com os inúmeros edifícios com granito na sua proximidade".
Os comerciantes vizinhos do mercado também se mostram "admirados", mas para eles, afetados pelas obras na rua e pela pandemia, o importante é que o histórico mercado reabra o mais rapidamente possível e seja um polo de atração de clientes. "Muitas pessoas dizem que não gostam, preferiam o esverdeado que tinha. Eu gosto! Está diferente e a ficar muito bonito", diz Raquel Esteves, funcionária do Mercado das Malhas, junto à porta norte do Bolhão, na Rua de Fernandes Tomás.
Benefício para toda a Baixa
O arranjo das coberturas está concluído e nas fachadas exteriores, descobertas para que os trabalhadores pudessem entrar nas lojas de rua, foi colocada nova caixilharia. Retiraram-se as venezianas que impediam a entrada da luz e o calor e colocou-se vidro. Os motivos decorativos das montras são limpos, lixados e pintados.
"Nas galerias, os vendedores queixavam-se muito do frio. Acho que agora entrará o sol, haverá mais luz. Não tenho dúvidas que o Bolhão vai revolucionar toda a dinâmica da Baixa do Porto", diz Maria José Neto, funcionária de um cabeleireiro na Rua de Alexandre Braga que perdeu movimento com as obras e a retirada das paragens de autocarros. A Rua Formosa, encerrada ao trânsito durante meses, foi das artérias da zona que mais sofreram.
A Farmácia Almeida Cunha, virada para a porta principal do mercado, chegou mesmo a sair dali e a instalar-se na Rua do Bolhão. Voltou há dois meses para o mesmo prédio, agora restaurado. "Tivemos grandes quebras porque as pessoas estavam habituadas a vir aqui", explica a funcionária Andreia Sousa. A porta do Bolhão está escancarada e é possível ver no interior as estruturas de metal de apoio às bancas que ficarão no piso térreo para os vendedores de frescos e flores. As estruturas em ferro fundido regressaram após o restauro e remontam-se as escadarias. Onde funcionava a Casa Hortícola, restauram-se azulejos colocados sobre um balcão. Os turistas rodeiam o edifício e tiram fotografias. Para Daniel Moreira, gerente da Casa Chinesa, "o Bolhão restaurado vai abrir uma nova perspetiva para o Porto e para o comércio local envolvente".