Mesmo com fome, sede e debaixo de temperaturas elevadas, os primeiros elementos dos Bombeiros Mistos do Seixal combateram incêndios que duraram vários dias na Marisol e no Pinhal de Frades. Foi com a roupa do corpo e os ténis do dia-a-dia que se juntaram nos barracões do antigo cinema do Seixal para iniciar aquela que é hoje uma das cinco maiores corporações do país.
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"As dificuldades que tínhamos eram medonhas, mas havia uma alegria muito grande dos jovens. Tivemos incêndios grandes, alguns levaram dias, em que as pessoas descansavam pouco e continuavam a combater. Muitas vezes não havia carros nem tanques. Tudo o que tínhamos era velho", recorda o comandante António Matos, de 63 anos, um dos sócios fundadores.
O crescimento demográfico acelerado do concelho terá nessa altura mobilizado a população, que meteu mãos à obra para constituir uma corporação. Estávamos em 1977. "O concelho tinha 55 mil habitantes e não existiam bombeiros, havia só apoio de Cacilhas e Sesimbra e a associação privada na Mundet com quatro ou cinco bombeiros", frisa.
Dos incêndios florestais que existiam naquela época, a corporação cresceu e evoluiu para uma rotina diária marcada por outras ocorrências. Perto da A2, não há dia que os Bombeiros Mistos do Seixal não sejam chamados para um acidente rodoviário. "A partir das quatro da manhã só se ouve os carros nas vias de circulação, na auto-estrada nomeadamente, e não pára mais", conta o comandante, que reconhece que os desastres mobilizam muitos meios.
Contudo, não é apenas à estrada que estes homens têm de estar atentos. "O maior perigo neste momento são os fogos urbanos, que já têm uma dimensão bastante grande. São quase permanentes", lamenta António Matos, que aponta o dedo ao descuido da população e ao parque habitacional já degradado que propicia o perigo. O lema "Vida por Vida" ainda faz o comandante, que em breve passará "a batuta" a pessoas mais novas, arregaçar as mangas, principalmente para gerir a corporação. Além dos apoios habituais da Câmara, que contribui com mais de um milhão de euros por ano, e das juntas de freguesia, a associação promove acções de formação para empresas e tem em funcionamento um posto de combustível aberto ao público, onde são abastecidas todas as viaturas da corporação. "Temos de gerir a casa com os meios que temos", afirma António Matos, orgulhoso pelo legado que deixa no Seixal, apesar de prometer que vai ficar por perto.