Corporação está a superar turbulência, tem cada vez mais serviços e nova recruta.
Corpo do artigo
Quando, a 1 de setembro, tomou posse como presidente da Real Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Porto, Mário Lino, 51 anos, tinha cinco elementos assalariados, mas só um é que era bombeiro; dois meses de salários em atraso, contas bancárias da associação penhoradas e ameaças de corte de luz, água e comunicações por falta de pagamento. O sócio n.º 4219 herdou ainda processos judiciais interpostos à corporação por antigos bombeiros que foram despedidos, tendo renegociado acordos, e em dezembro aceitou a renúncia do então comandante.
Cinco meses volvidos, o presidente sente que no dia a dia ainda anda "a apagar fogos", mas com "ânimo redobrado". Muito por conta do entusiasmo de Luís Silva, novo comandante - a cerimónia oficial de tomada de posse será no sábado - e que acumula o cargo de diretor-geral da associação.
"O corpo de bombeiros é que me pediu para vir e eu vim", desabafou o responsável, contando que, "entre 2009 e 2013", já tinha sido "segundo-comandante nesta casa". Até dezembro, Luís Silva, de 44 anos, era funcionário dos Bombeiros Voluntários de S. Mamede de Infesta. Mas antes disso, foi segundo-comandante nos Bombeiros Voluntários de Matosinhos/Leça, corporação onde foi "recrutar" os outros dois elementos de comando: o segundo-comandante Henrique Oliveira, de 46 anos, e o adjunto Jorge Lemos, de 25. Mário Lino não tem dúvidas: Luís Silva "é o homem certo para dar a volta a esta casa".
Formações caducadas
Mal assumiu o cargo, uma das prioridades do comandante foi captar novos elementos, até porque quando chegou à corporação "há meses" que os Voluntários do Porto não respondiam a ocorrências de socorro e só havia saídas "se houvesse voluntários". Atualmente, diz orgulhoso que "todos os dias" recebe "pedidos de transferência de bombeiros", querendo integrar a equipa da corporação.
Outra preocupação de Luís Silva foi voltar a formar o corpo de bombeiros, uma vez que "só havia um elemento com o curso de tripulante de ambulância de socorro (TAS) válido". Todos os outros, tripulantes de ambulância de transporte (TAT), tinham as formações "caducadas há mais de dez anos". Num tempo recorde, "foram certificados todos os TAS e TAT, num total de 24 elementos". Até porque, para o novo comandante, é essencial "aumentar a capacidade de resposta" da corporação.
E os números não enganam: "De 1 a 16 de dezembro [ainda com o antigo comandante] , os Voluntários deram resposta a 30 emergências do INEM; acabamos dezembro com mais 102; já em janeiro contabilizamos 302 emergências médicas; e a 9 de fevereiro tínhamos já feito 140", salientou.
Mário Lino enaltece a "dinâmica" de Luís, que "contagia" a corporação e outros bombeiros, dando como exemplos o facto de terem iniciado "uma nova recruta com 18 estagiários, entre os 17 e os 45 anos, muitos deles oriundos de quadros de reserva", e de terem "retomado a escola de infantes e cadetes, com crianças e jovens dos seis aos 16 anos".
Com a nova recruta, os Bombeiros Voluntários do Porto passam a contar com 40 elementos, mas Luís Silva diz que pretende "chegar aos 60 ainda este ano".
Salas cheias de lixo
Outro dos "berbicachos" que o comandante/diretor-geral da associação tem de resolver prende-se com o facto de "não ter veículo de comando". "Pelo que constatamos, o carro foi levado pela anterior direção para uma oficina de Gaia - desconhecemos para que efeito -, mas agora exige-nos 4700 euros para o levantar, referentes aos sete anos que o veículo esteve lá estacionado".
Luís Silva confessou ter ficado "incrédulo" com o estado em que encontrou o "terceiro e quarto pisos do quartel", com salas repletas de lixo e documentos da corporação e material (como mangueiras e capacetes), ao abandono, espalhados pelo chão. "Isto é um quartel de bombeiros!", revolta-se.