Portuenses fazem simulacros semanais para aperfeiçoar técnicas e preparam época dos fogos florestais. Com viaturas com mais de 30 anos e um quartel a precisar de obras, vale o amor à causa pública.
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Sem aviso prévio, as chamas irrompem no primeiro piso de um edifício com três andares. Mal o telefone toca, os Portuenses saem com todos os meios para o local. Não há tempo a perder. É preciso fazer um combate directo no primeiro piso e evitar que as chamas se propaguem aos prédios vizinhos. Mas o vento Sul-Norte leva o fogo a rebentar com as janelas traseiras e o incêndio chega ao segundo piso.
Silvia Mota, bombeira há oito anos, é a primeira a entrar no prédio. Não é fácil subir a estreita escadaria e entrar pela janela. Em poucos segundos, a botija de oxigénio parece que pesa uma tonelada. Consegue. "Tem que se praticar muito e ter jeito", diz.
Entretanto, é descoberto um ferido no segundo piso. Carlos Oliveira inalou fumo e está com problemas respiratórios. Tem que ser evacuado. Chega uma ambulância e uma equipa de resgate que, usando um "triângulo de evacuação (uma espécie de fralda) retira a vítima pela janela.
Carlos Oliveira, voluntário desde os 14 anos, não consegue esconder, porém, um sorriso maroto. "É a terceira vez que faço de vítima, mas nunca tinha sido evacuado na fralda", conta, acrescentando, numa alusão ao facto de ter sido escolhido por ser o mais magro: "Estava a ver que os meus colegas não aguentavam comigo".
Cerca de 15 minutos depois, o simulacro acaba e os 15 portuenses, que passaram uma tarde inteira de sábado a treinar, saem com o sentimento de dever cumprido". "Correu tudo bem", diz o comandante da corporação, José Rocha, explicando que os treinos até costumam contar com mais homens. Mas os Portuenses, que dão apoio ao FC Porto, tiveram que mandar 15 elementos para um jogo de andebol no Dragão Caixa. Muitos dos efectivos até são benfiquista. José Rocha, porém, é sócio do FC Porto há 47 anos. Mas tanto faz. "Ninguém se pode manifestar durante os jogos", sublinha o comandante, acrescentando: "Em cada jogo, temos 40 bombeiros mais 13 elementos da equipa médica".
Além disso, a corporação ainda tem que acudir a todo o tipo de ocorrências, desde as rotineiras como o transporte de doentes, ao combate a incêndios urbanos e florestais. Aliás, é para estes últimos que começam, agora, a concentrar as suas atenções.
Com viaturas com mais de 30 anos e um quartel a precisar de obras, vale o amor dos portuenses à causa pública. Apesar disso, José Rocha só tem um pedido: uma viatura nova de combate aos incêndios.