<p>Depois de mais um ano de trabalho, a Bugiada de Sobrado, Valongo, voltam hoje a encher as ruas da freguesia. Diz a lenda que os mouros se apoderaram de uma imagem milagrosa de S. João para curar a filha do rei. Como não o devolveram, tiveram que combater a tribo dos bugios, empenhada em recuperá-la. Todos os anos, a história é recriada.</p>
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Este ano, Alfredo Moreira é o Juiz da festa. Foi ele que organizou tudo, arranjou dinheiro e supervisionou os treinos. "Numa primeira fase, cada membro da comissão entra com 50 euros. Depois, tentamos arranjar patrocinadores, vendemos rifas e organizamos actividades para angariar fundos", conta.
Na casa do Bugio, fazem sarrabulhadas e feijoadas para mais de 600 pessoas. O dinheiro vai sendo amealhado aos poucos. Alfredo Moreira participa na festa desde os 12 anos. Tem 49. Em 2004 teve um acidente e prometeu a S. João que um dia ia ser juiz da festa de Sobrado. "Sempre quis ser mas é uma responsabilidade enorme", confessa. Por detrás do aparato da festa de hoje criam-se amigos, garante Alfredo Moreira. "A experiência é muito boa, está a chegar ao fim e já está a deixar saudades", confessa.
Manuel Marques é este ano, o líder dos Cristãos, o Velho. Há 37 que faz parte dos bugios, e agora é ele quem controla a bugiada. "Em pequenos participamos porque é engraçado, depois apanhamos-lhe o gosto", graceja. Manuel Marques já experimentou várias façanhas, mas garante que o mais importante é "ajudar a organizar tudo, é saber trabalhar para os outros". Na bugiada, os olhos vão estar postos no Velho. "Se eu fizer algo mal, que não seja habitual, sou criticado", afirma. "É preciso muita preparação, física e psicológica para aguentar a crítica. Se é boa aguentamos bem, se é má torna-se mais difícil", acrescenta.
Marco Ramalho, tem 27 anos. Depois de 13 a participar na bugiada, este ano veste a pele do rei dos mouros. Cabe-lhe a função de comandar o exército de 40 homens, todos jovens e solteiros. Para ele, pertencer aos mouros é uma honra. "Eu penso em casar. Ponho a hipótese de ir como bugio mas não tanto. O que eu gosto mesmo é dos mouros. Talvez fique a ajudar a comissão", revela.
"Quando sair a porta de casa, a festa estará a terminar", diz Manuel Marques. É tempo de começar a pensar na próxima, faltam pouco mais de 300 dias e há muito trabalho pela frente.