Tradicional bugiada que se realiza há anos sem conta voltou a cumprir-se em Sobrado., Valongo. Moradores vibram com a festa e os de fora ficam fãs dos festejos.
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Ninguém sabe quantos anos ou quantos séculos tem a tradição da Bugiada, em Sobrado, Valongo. Certo é que ontem voltou a cumprir-se. Bugios e mourisqueiros, vestidos a rigor, encenaram a lenda medieval que sempre termina com vitória dos cristãos.
O centro da freguesia amanheceu, ontem, engalanado para os festejos de S. João, preparados durante todo o ano. A tradicional manifestação cultural, considerada uma das mais importantes do Norte do país, traz até Sobrado visitantes de todo o lado. Márcia e Paulo vieram de Vila do Conde, pela segunda vez.
“É um S. João diferente”, afirmam, habituados a passar também pelos festejos da cidade do Porto. Luís e Cláudia Matos vieram de Santo Tirso. “Nunca vimos nada assim”, comenta.
Mas são os moradores de Sobrado que mais vibram com a bugiada. “É uma festa popular com um grande envolvimento da população”, nota António Pinto, responsável da organização. No adro da igreja, o rebuliço provocado pelos bugios arrecadava gargalhadas e palavras de ordem. “Sai daí velho”, gritava uma mulher, encostada a uma árvore.
De cada vez que se aproximavam os mascarados “coloridos”, barulhentos e desordeiros, a regra era: tudo a fugir. Durante o dia, bugios (cristãos) e mourisqueiros (mouros) representaram rituais medievais. O auge da festa foi a encenação da lenda que corre em Sobrado há várias gerações.
Diz o povo que há muitos, muitos anos, a filha do rei de uma tribo moura adoeceu gravemente, sem que sábios e curandeiros encontrassem solução, conta António Pinto. Os mouriscos souberam que, nas margens do Rio Ferreira, um povo cristão com grande devoção ao S. João salvou uma princesa com a imagem daquele santo. Pediram então auxílio aos bugios.
A princesa moura sobreviveu e mouriscos e bugios envolveram-se numa guerra pela imagem de S. João. O rei cristão foi preso e os bugios, sabendo que os mouros eram supersticiosos, vestiram máscaras e objectos coloridos, e irromperam pela tribo mourisca, recuperando o rei e a imagem de S. João.