Após obras também atrasadas pela pandemia, o icónico estabelecimento do Porto renasce com o charme original.
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"Reabilita-se e reabre com dignidade", anuncia-se o Café Ceuta. Após um longo "reset", o emblemático estabelecimento de restauração, situado na rua homónima do centro do Porto, volta a franquear as portas, exatamente dois anos após as ter fechado, para obras que a pandemia retardou e que só agora puderam ser concluídas. A cidade não perde pela demora, promete o empresário Nuno Castro, entre o esplendor dos mármores, dos cristais e dos sabores e aromas de uma certa nostalgia tripeira.
Inaugurado a 18 de julho de 1953, o Ceuta só não renasce novinho em folha porque "toda a traça original foi respeitada", verifica Nuno Castro, a apontar para as mesas, os balcões ou os painéis e as pinturas a frescos que, há 68 anos, inspiraram Coelho Figueiredo para a decoração da casa, toda alusiva à conquista de Ceuta. "Foram todos restaurados. Nem se viam, com a nicotina e com o lixo", diz o empresário.
Intimidade e relaxe
A fumarada de sete décadas foi também testemunha da frequência de muitas gerações de tripeiros, no que chegou a ser ponto de encontro para muita assembleia literária e não menos tertúlia política, sempre vigiada pelas gabardinas extemporâneas da PIDE e sempre no mesmo jogo de luz e de sombras que orientou o projeto do arquiteto Carlos Neves.
O renovado Ceuta segue à risca todos estes conceitos luminosos e reabre no mesmo apelo do Porto retro e dos anos de charme de 1950. Do anúncio primordial - "Venda ao público de café em chávena, bebidas licorosas, cerveja e lanches" - à nova oferta vai só a distância que o turismo impõe, para proposta cosmopolita. Das 8 às 24 horas, terá serviço de bar e restaurante, em dois andares, sempre com música ambiente. E música ao vivo, pelo jantar. "Intimidade e relaxe", diz Nuno Castro.
No piso inferior, três mesas de "snooker" serão mantidas só por decoração e lembrança dos tempos dos "matinhos" que nutriam as rivalidades e apostas dos bilharistas. A atração, agora, será outra: a sedução do paladar. Tudo, é claro, regado com vinhos de estalo. Tchim-tchim!
O fascínio do cinema
Uma cena rodada no Café Ceuta faz parte de "Porto, Mon Amour", filme realizado pelo brasileiro Gabriel Klinger, que colocou a cidade no roteiro internacional do cinema.
Valor patrimonial
O estabelecimento em si não tem qualquer classificação específica, designadamente de ordem cultural ou histórica, mas o edifício está inventariado no Plano Diretor Municipal do Porto como imóvel de valor patrimonial.