Câmara do Porto manda suspender abate de árvores na VCI ordenado pela Infraestruturas de Portugal
É mais um episódio que coloca a Câmara do Porto de costas voltadas com a Infraestruturas de Portugal. Desta feita, o corte de 60 árvores com cerca de 60 anos, na VCI, na zona da Prelada. A Autarquia mandou suspender o abate por razões de segurança.
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O abate de 60 de um total de 102 árvores na rua Maria Lamas chegou ao conhecimento da Câmara do Porto, esta segunda-feira, pela voz do presidente da Junta de Freguesia de Ramalde, alertado por moradores, revoltados, com o fim de uma cortina arbórea que funcionava como barreira de som contra o ruído emitido pelos mais de 125 mil veículos que anualmente circulam naquela via.
"Sem que a Câmara fosse informada, a Infraestruturas de Portugal (IP) resolveu deitar abaixo 60 árvores que ladeiam a VCI e isso causa consternação na população", revelou o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira.
Em causa 60 choupos de um total de 102 árvores (42 exemplares são municipais), com idades compreendidas entre os 20 e 60 anos, na rua Maria Lamas, na Prelada. O abate arrancou esta segunda-feira, tendo já sido eliminados "entre 18 a 20" exemplares daquela cortina arbórea.
Segundo Rui Moreira, a Autarquia questionou imediatamente a IP, tendo apenas sido informada de que os abates tinham sido ordenados por razões de segurança. A Câmara do Porto duvida. "Não há qualquer evidência dessa matéria. Parece-nos muito estranho que haja motivos de segurança em todas. Não é muito provável que todas as árvores fiquem doentes ao mesmo tempo", aponta o autarca independente, exigindo que a IP envie o estudo fitossanitário em que e baseou.
Numa deslocação ao local, esta terça-feira, supervisionada pelo comandante da Polícia Municipal, superintendente Leitão da Silva, constatou-se que a operação de abate de árvores não está a cumprir as normas "mínimas" de segurança, nomeadamente por estar a ser feita junto a uma via da VCI. Por isso, a Câmara do Porto ordenou que a operação fosse suspensa.
A Câmara do Porto exige que a IP revele também o que pretende executar naquela zona da VCI, no local onde decidiu abater as árvores de grande porte. "Desconhecemos completamente o que vai acontecer naquele território", lamenta Rui Moreira, avisando a IP que a Via de Cintura Interna não pode ser tratada como um qualquer quilómetro de autoestrada. "A IP tem que perceber que, uma vez a VCI sendo um território seu, será sempre uma via urbana", vincou.
É que, a eliminação daquela cortina arbórea tem impacto, por exemplo, na redução do ruído e na poluição. "Temos vindo a insistir que é preciso criar barreiras acústicas", destacou Rui Moreira, lamentando que a IP não execute as recomendações do grupo de trabalho, constituído pelas autarquias do Porto, Maia e Matosinhos, com vista ao desvio do tráfico pesado numa VCI que, em 2022, registou 526 acidentes, dos quais resultaram dois mortos, um ferido grave e 159 ligeiros.
Segundo a Autarquia, a única intervenção da IP foi numa alteração da troca de prioridades no Nó de Paranhos, agravando ainda mais o caos numa cidade que já para sempre que há um acidente na VCI. "Tem tido um forte impacto na mobilidade no interior da cidade, tendo sido, à data, solicitada a reposição das prioridades no referido entroncamento", revela a Câmara do Porto, lamentando que a IP apenas se tenha mostrado "disponível para promover a duplicação das vias", o que já deveria ter arrancado no início de 2023.
No que diz respeito à VCI, a IP continua em silêncio quanto às medidas que a Autarquia diz que já deveriam ter sido implementadas no âmbito do desvio do tráfico pesado para a CREP, a eliminação de portagens na A4 e a colocação de pórticos na VCI.