Caminhar é um dos desafios da mobilidade: "Vamos ter de parar de andar tanto de carro"
Quem vive e trabalha na zona da Almirante Reis, em Lisboa, sente-se afetado prejudicialmente pelo ruído e pela poluição, de acordo com um estudo realizado pelo Instituto de Tecnologia Comportamental. Paula Teles, presidente do Instituto de Cidades e Vilas com Mobilidade, defende um maior uso do chão da cidade e reafirma a necessidade de caminhar.
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Várias pessoas consideram que a ciclovia da Almirante Reis prejudica a mobilidade nesta avenida de Lisboa. Concorda?
A ciclovia não é o mal da mobilidade dessa avenida. Continuamos a ver muita gente a andar de bicicleta nessa via e a utilizá-la para os movimentos casa-trabalho e casa-escola, que são justamente os que nos interessam a nível da mobilidade sustentável. Lisboa tem de continuar o caminho que estava a fazer, já é irreversível.
É possível que diferentes meios de transporte convivam saudavelmente em cidades como Lisboa?
O que pedimos é que as pessoas façam o último quilómetro a pé ou de bicicleta, e isso já seria muito. Mais de 60% das deslocações nas cidades são de poucas distâncias. As pessoas vão ter de caminhar, não há um transporte público que sai da porta de casa e chega à do trabalho de todos. Essa infraestrutura urbana, que é o chão da cidade, precisa urgentemente de ser redesenhada. É o grande desafio desta década. Quando isso acontecer, vão conviver saudavelmente. Lisboa também precisa de mais parques de estacionamento dissuasores.
O ruído e a poluição do ar são outras das preocupações de quem vive nas cidades. Como resolvê-los?
Com a diminuição do tráfego automóvel e o aumento da nossa estrutura verde. Não podemos ter três faixas de rodagem, duas de estacionamento e passeios exíguos. O carro não é o rei da mobilidade, tem de ser o peão, a caminhar, a andar de bicicleta ou outros modos suaves. Vamos ter de parar de andar tanto de carro, muito menos cada um no seu automóvel. Já não é só o problema do espaço, mas das partículas poluentes.
Que bons exemplos de intervenções no espaço público destacaria noutros países?
Em Paris, os Campos Elísios eram uma rua com dez ou 12 faixas de rodagem. Já estão várias fechadas ao trânsito e vai-se transformar num parque verde urbano. Era o que precisávamos nas avenidas da Liberdade, em Lisboa, e nos Aliados, no Porto, que são demasiado importantes para estarem atulhadas de carros. Pontevedra, na Galiza, foi a primeira zona 30 do Mundo e ganhou prémios. Em Barcelona, já há várias ruas sem carros, em Vigo os passeios aumentam todos os dias e, em Milão, eliminam-se faixas de rodagem.