Rui Brito, funcionário há mais de uma década numa loja na Avenida do Almirante Reis, já não se vê a trabalhar noutro sítio, mas se pudesse acabava com o ruído de uma das artérias mais movimentadas de Lisboa.
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"Quando fizeram as ciclovias e reduziram as faixas rodoviárias, o trânsito piorou muito, com filas enormes de carros parados. Com as buzinadelas dos condutores e o ruído das ambulâncias, não conseguimos falar com os clientes. Esta é a avenida das ambulâncias", queixa-se o comerciante.
Para António Revés, o barulho também é um dos principais problemas desta artéria. "Às vezes, as ambulâncias passam a horas em que a rua está livre, sem carros, e fazem um "basqueiro" que era desnecessário", critica o lojista. Américo Rodrigues diz que deveriam ser pensadas medidas para reduzir o trânsito na subida. "As ciclovias deviam ser só no sentido descendente para facilitar a fluidez do tráfego na subida. Consome-se mais combustível no "pára-arranca" e polui-se mais a subir. O trânsito faz parte da cidade, mas tem de ser pensado", defende o sócio de uma pastelaria.
Uma opinião partilhada por António Revés, que diz que o congestionamento piorou. "Antes demorava dez minutos de minha casa em Alvalade até à Almirante Reis. Agora são necessários 40 minutos. O caos do trânsito derivado da ciclovia é o grande problema", diz o comerciante, que lamenta ainda a poluição. "Há uns anos, quando estacionava o meu carro branco na avenida, ficava castanho com a ferrugem do elétrico e outras coisas. Imagino os meus pulmões.
Casas sobrelotadas
Quem vive nesta artéria da cidade, há várias décadas, também censura o trânsito e a poluição, mas as preocupações principais são outras. "Quando saímos de casa há demasiada gente, o que prejudica a qualidade de vida", diz Isaura Rocha, 65 anos. A amiga, Beatriz Costa, 84 anos, concorda. "É muita confusão. Há falta de casas, muitas pessoas a viverem na mesma habitação e pessoas despejadas. Noutro dia, fiquei incomodada quando vi várias na rua em tendas e com mobília ao lado, como se tivessem sido expulsas de casa", conta.
Jorge Fonseca, 75 anos, adverte para as situações de sobrelotação habitacional. "Num andar dormem 20 ou 30. Há 80 ou 100 pessoas com a mesma morada. Não percebo como não há controlo", partilha. O morador diz que a zona "está cada vez pior e não tem ponta por onde se lhe pegue".
"Isto é um pandemónio, desde o trânsito à falta de limpeza das ruas. Vivem aqui pessoas de várias culturas e algumas não têm hábitos de higiene. Há contentores, mas põem o lixo onde calha. As ruas estão uma miséria. Num andar dormem 20 ou 30. Há 80 ou 100 pessoas com a mesma morada", conclui.