O ruído e a poluição do ar são os fatores que mais afetam o bem-estar de quem vive, trabalha ou frequenta a zona da Almirante Reis, em Lisboa, segundo um estudo realizado pelo Instituto de Tecnologia Comportamental.
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"A maior parte das pessoas considera que o ruído é excessivo e o ar puro é escasso. Cerca de 60% acham que o nível de ruído é inaceitável", diz ao JN Miguel Lopes, coordenador deste inquérito que dará contributos para a requalificação desta avenida, prevista para 2025, cujo processo de discussão pública está a decorrer desde o final do ano passado.
O futuro da Almirante Reis está a ser pensado pela Câmara de Lisboa e munícipes, que procuram soluções para melhorar a qualidade de vida de quem frequenta esta parte da cidade.
A difícil convivência entre diferentes meios de transporte e peões tem sido um dos principais desafios nos últimos anos, mas há outras preocupações. "Os inquiridos avaliaram menos positivamente o nível do ruído, cerca de 60% acham que é inaceitável, e, por outro lado, 76% acham que não se respira ar puro. São dois terços, é muita gente", alerta Miguel Lopes. O estudo, que identificou os principais fatores que contribuem para a melhoria da qualidade de vida nesta artéria estrutural da cidade, não define medidas concretas para qualificar o espaço público, mas deixa algumas dicas.
Ciclovias prejudicam
"Não temos propostas taxativas, mas, uma implicação que parece óbvia é reduzir o fluxo de tráfego na zona. Se a poluição é o fator mais determinante do bem-estar, isso dá algumas indicações de que as questões do tráfego são relevantes", considera o professor universitário.
Quase metade dos inquiridos (48,9%) considerou ainda que as ciclovias prejudicam a fluidez do tráfego e dos transportes públicos. "Os residentes acham significativamente mais que as ciclovias prejudicam a fluidez do trânsito que os não residentes. E são as pessoas com mais idade que consideram que a ciclovia prejudica o tráfego", explicou Miguel Lopes, durante a apresentação dos resultados do estudo, que decorreu na última semana em Lisboa. Apesar destes resultados, a questão ciclovia não tem um impacto relevante nos níveis de bem-estar dos inquiridos.
Rosário Salema, arquiteta paisagista que faz parte da equipa da Câmara de Lisboa responsável por fazer o diagnóstico desta parte da cidade, lembrou a importância da intervenção na Avenida do Almirante Reis, uma vez que esta via "tem estado em autogestão".
"Nos últimos 20 anos, as principais intervenções do espaço público centraram-se nos eixos central e ribeirinho. No início de 2024, teremos uma estrutura do programa de intervenção. Será um trabalho muito minucioso, mas não haverá uma grande alteração do ponto de vista da imagem da avenida", revelou a responsável. v
A presidente da Junta de Arroios, Madalena Natividade, referiu vários problemas da avenida como "ruído, sem-abrigo e muitas pessoas a viverem numa área que seria para 30 mil, mas onde vive quase o dobro, cerca de 50 mil". O presidente da associação Vizinhos de Arroios, Luís Castro, criticou a gentrificação. "Vivem aqui nómadas digitais, que podem pagar mais do que os locais e os preços sobem", referiu.
140 pessoas
foram ouvidas no inquérito realizado no âmbito do projeto High Quality Public Spaces.
93% dos inquiridos
concordam (em parte ou totalmente) na facilidade em chegar à Almirante Reis.