<p>Por razões de saúde ou simplesmente pelo convívio, são muitos os que saem de casa ao final do dia para caminhar nos centros das cidades. Em família ou com os vizinhos, andar a pé também é moda longe da praia e das marginais de rio. </p>
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A Avenida da Conduta, principal via que atravessa Gondomar, é exemplo daquela tendência. A partir das seis da tarde e até perto da meia-noite, sobretudo ao fim-de-semana e quando está bom tempo, vê-se muita gente a caminhar à volta de cinco quilómetros. Mas os passeios estão cheios também nos dias úteis. Na Maia, a afluência é bem menor. Com o portão aberto até à meia-noite, os munícipes optam por andar à volta do Estádio Prof. Dr. José Vieira de Carvalho. O local é mais procurado ao final da tarde. Em Valongo, são cada vez mais os que vão caminhar ao fim do dia. Mas há quem prefira andar uns quilómetros logo pela manhã, antes do trabalho. A zona dos Lagueirões é a mais concorrida.
Andar é desporto para qualquer idade nos Lagueirões
Dos oito aos oitenta, o hábito de andar a pé não tem idade. Rosa de Jesus foi com a nora Maria dos Anjos e a neta Letícia caminhar entre os prédios, na zona dos Lagueirões. Por volta das oito e meia da noite, marcava passo num grupo de seis mulheres e meninas. Uma rotina que se repete há dois anos. Fazem uma hora de caminhada, todos os dias, "mesmo no Inverno", contou, ao JN. E "só se chover muito" é que ficam em casa. A nora não se fica por aquele grupo. Às 22 horas, volta a sair para o mesmo local para "andar a pé com duas colegas". O marido prefere caminhar "de manhã e sozinho", explicou Maria dos Anjos.
No local, estavam ainda poucas dezenas de pessoas a praticar exercício, mas o grupo de Rosa de Jesus, cujo médico a aconselhou a andar por causa dos "problemas nas pernas", garante que "mais tarde há muito mais gente".
Eduardo Jorge, de 37 anos, também marca presença todos os dias, mas logo pela manhã. "Costumo vir às sete e meia, mas hoje deu-me mais jeito de noite", explicou, ao JN, prometendo que na manhã seguinte não ia faltar. "Sabe melhor, é mais fresco e não estou com o stress do trabalho", justificou. Corre sempre até às oito e meia, cerca de 10 quilómetros, toma banho e sai para o trabalho, que fica perto de casa. Acompanhado pela filha Ana Rita, de 13 anos, que estava de bicicleta, Eduardo trazia uma camisola da selecção portuguesa, mas garante que é "amador". O percurso, confessa, "é um bocado perigoso" por causa dos carros que passam, mas procura os locais com maior visibilidade.
Na mesma avenida, andavam Paulo Marques e Jorge Manuel, ambos de 39 anos, como fazem "quase todos os dias" durante 60 minutos. Mas apenas no Verão. É uma forma de manter a forma física e de conversar, explicaram ao JN. Jorge também faz squash e "às vezes" vai ao ginásio. O amigo só caminha e "levanta copos". No local, nunca viram mais de 40 pessoas, testemunharam ao JN.
Quarenta voltas ao estádio para fazer bem às pernas
Após o jantar, dois casais entraram pelo portão de acesso ao estádio municipal. Os quatro caminham juntos "quase todos os dias", durante "uma hora", explicou Dulce Barbosa, de 59 anos, ao JN. De casa, são 10 minutos a pé de aquecimento. Num passo lento, conversam enquanto fazem exercício, acabando por dividir o grupo em dois. À frente, iam os maridos. E, logo depois, as mulheres. António Lopes, de 74 anos e Paula Soares, de 38, também estavam na conversa mas conheceram-se ali. "Venho aqui andar quase todos os dias", garantiu António, ao JN. "É para não ganhar barriga e manter a elegância", explicou, bem disposto.
Paula Soares também costuma ir andar sozinha. Mora perto, no Bairro do Sobreiro. "Todos os dias, ando uma hora ou menos", explicou, contando que o objectivo também é emagrecer. Até porque não frequenta qualquer ginásio. Para fazer companhia, traz o telemóvel e vai ouvindo música através dos seus auscultadores.
António Alves, de 57 anos, também escolheu o estádio para caminhar com a mulher porque "faz bem as pernas". "Ele anda mais, cerca de 40 voltas", conta Joaquina. O casal garante que "está sempre muita gente a andar" ali. E há dias em que se juntam naquele espaço "40 ou 50 pessoas".
"Sou obrigado a andar pelo meu médico", contou, por sua vez, José Santos, de 61 anos, porque "parar é morrer". "Todos os dias ando a pé e só pego no carro quando é preciso", disse ao JN. Além disso, não gosta "de estar parado". Em sentido contrário, num passo mais acelerado, seguia Maria Fernanda, de 55 anos. Habitualmente, caminha durante cerca de uma hora. E não pára para conversar.
Entre os amadores que costumam fazer exercício em torno do estádio, estão sobretudo casais. Muitos atletas federados do concelho também costumam correr ali. Durante o fim-de-semana, a afluência "aumenta um pouco", conta quem ali costuma estar diariamente. E, neste momento, "há muita gente de férias".
Passeio na Avenida da Conduta junta vizinhos
Todos os dias, o mesmo ritual: descer e tocar às campainhas dos vizinhos para ver quem se junta à caminhada, explicou Lurdes Madanços, de 45 anos. Num grupo de seis pessoas, constituído por casais e moradores do mesmo prédio, em Fânzeres, seguia ao longo da Avenida da Conduta.
Nesta via de Gondomar, há dias em que os caminheiros chegam às três centenas. Alguns fazem o percurso entre o centro do concelho e a freguesia de Rio Tinto, passando pela Vila de Fânzeres. Porém, se os calçadões atraem quem gosta de andar ou correr, por outro lado ouvem-se críticas ao mau estado do pavimento. Entre os largos passeios que foram sendo construídos na Avenida da Conduta existem muitas falhas. "Há pontos que nem sequer têm passeio", queixa-se Pedro Monteiro, de 33 anos. Até porque numa das bermas da via ele é inexistente. Por outro lado, os carros passam a alta velocidade e as pessoas criticam a retirada das lombas de desaceleração.
No "lado bom" da Avenida, David Silva, de 46 anos, e a esposa, Paula Duarte, de 42, empurravam o carrinho de Iris Filipa, de dois anos. Com Carolina e Leandro, cada um com quatro anos, Iris integrou esta família de acolhimento que passeava após o jantar. Fazem sempre o percurso entre a chamada fonte luminosa e a Rotunda da Carvalha. O Inverno não costuma ser obstáculo. Porém, quando está de serviço nos bombeiros, David falta à caminhada.
Quanto às razões que os levaram a fazer exercício, o marido explica que "tinha o colesterol muito alto e o médico mandou andar". Prefere andar de bicicleta e às vezes traz consigo a sua filha mais velha. Mas assim não pode fazer companhia à Paula que, por sua vez, tem indicação médica para caminhar no sentido de "perder alguns quilos".
Joaquim e Sandra Rocha, de 47 e 41 anos, moram em S. Cosme e também caminham "habitualmente". "Mais no Verão", durante 50 minutos e seis quilómetros. Ele é atleta amador e, quanto está sozinho, prefere correr. Da mesma freguesia, Fernando César, de 49 anos, costuma ali andar "todos os dias" na Avenida da Conduta.
A alguns metros de distância, estava um grupo entre os 14 e os 19 anos. Cristiano, César, Fávio e Márcio chegaram após as 22 horas. Mais dois amigos costumam juntar-se ao grupo mas estavam de férias. "Fica mais barato vir andar" do que o ginásio, explicou Márcio.
Paula Cruz, de 41 anos, diz que não tem tempo para ir ao ginásio "e são muitos caros". "Costumo vir andar para a Avenida da Conduta porque acho que me faz bem. Além disso, não faço mais nenhum desporto", justificou.