<p>Pela primeira vez em 30 anos, a Associação do Carnaval da Bairrada vai pagar impostos. Uma promessa feita, esta quinta-feira, na Mealhada, na apresentação oficial do rei do corso de 2009, o actor brasileiro Max Fercondini.</p>
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Com cara de "poucos amigos", o presidente da ACB, Fernando Saldanha, deixou um aviso: "Este ano as coisas vão ser diferentes. Vamos ter de pagar impostos. Temos as Finanças em cima de nós, pelo que vamos ter mais despesas do que era normal nos eventos dos últimos 30 anos. Até livro de recibos vamos ter!".
Depois de admitir que a ACB andou a beneficiar, entre outros, de IVA que cobrava nos bilhetes de ingresso no cortejo carnavalesco, sem entregar esse imposto aos cofres do Estado; depois de reconhecer que só ao fim de três décadas é que a ACB deu início de actividade nas Finanças; o líder do carnaval da Mealhada traçou um panorama muito negro para o futuro, como que culpando o Fisco, ainda que de forma indirecta, pelo agravar das despesas organizativas: "o carnaval está em risco. Os seus dias estão contados. As exigências são cada vez maiores".
Para "salvar" o carnaval da Mealhada, Fernando Saldanha lançou um desafio ao presidente da Câmara, Carlos Cabral, que se encontrava a seu lado: "A ACB tem de passar a ser uma empresa municipal. Isto [de ser dirigente associativo] é uma escravatura. Até me esqueço da minha família".
O autarca recusou liminarmente essa hipótese, argumentando, por um lado, "que as empresas municipais têm sempre os prejuízos cobertos pelas câmaras e o dinheiro dos contribuintes é para ser gerido com parcimónia; por outro lado, porque se fizéssemos uma empresa municipal, caíam-nos em cima as outras associações do concelho a exigir o mesmo".
Carlos Cabral, deixou, no entanto, uma sugestão ao líder da ACB: "Se não quer ser presidente, pode demitir-se. Vivemos em democracia. O associativismo não é uma escravatura".
"Não acredito na morte do carnaval. De qualquer modo, se isso acontecer, também há vida para além do carnaval, mais vida associativa, cultural, social", afirmou o autarca.
O corso carnavalesco da Mealhada tem um orçamento, este ano, de 185 mil euros. Só o actor Max Fercondino, que desempenha o papel de Conrado Cassini na telenovela Ciranda de Pedra, cobra 12 mil euros (deverá ser o primeiro "rei" a emitir recibo contra o pagamento do respectivo cachet).
A Câmara Municipal, que vai contribuir com 100 mil euros, já avisou que só pagará esse subsídio "com provas irrefutáveis de despesas efectivamente realizadas pela ACB. Sem isso, nada feito!", avisou, ontem, Carlos Cabral.
As escolas de samba, que vão absorver mais de metade do subsídio camarário, terão de fazer igualmente prova, pela primeira vez, do uso do dinheiro que vão receber. Nem todas estão muito agradas com a ideia, reconheceu Fernando Saldanha.