As obras de construção da linha Rosa, no Porto, vão levar a alterações de trânsito, a partir desta quinta-feira e durante um ano, na Rua de 31 de Janeiro. Só os peões poderão passar para Sá da Bandeira. Comerciantes estão apreensivos.
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O trânsito automóvel na Rua de 31 de Janeiro, na Baixa do Porto, vai sofrer duas alterações devido às obras do metro. Está previsto que, a partir desta quinta-feira, os carros deixem de ter acesso à vizinha Sá da Bandeira, sendo apenas possível descer e fazer inversão de marcha junto ao entroncamento. Aqui chegamos à segunda mudança: a rua passa a ter dois sentidos. Os condicionamentos vão manter-se por um ano, o que está a causar apreensão a alguns comerciantes. Só os peões vão poder passar entre as duas artérias.
Há muito que a antiga Rua de Santo António desperta um sentimento de desolação a quem ali passa e a quem vive dos negócios. São poucas as lojas que se mantêm abertas, há carros em cima dos passeios, as ervas daninhas crescem por onde podem. Até há um estabelecimento, há muito fechado, em que a vegetação selvagem cresceu junto à montra, do lado de dentro, aproveitando-se das fissuras do soalho e da exposição solar.
Detalhes que não escapam às irmãs que gerem a Sapataria Cândida Teixeira. Margarida Oliveira, nossa interlocutora nesta loja, entende que a alteração de trânsito vai acabar por "condicionar as pessoas que andam na rua" a pé. Já notou diferença com a frente de obra junto à Rua da Madeira e teme ver cumprir-se o seu veredicto: "Se esta rua estava mal, agora vai ficar péssima. Não é só das obras, é a rua ela mesma".
Mesmo ao fundo de 31 de Janeiro, Margarida Novais começa por relatar-nos dois motivos para a quebra do negócio na Tabacaria Santo António, em que partilha sociedade: a abertura dos centros comerciais e, depois, a chegada da Internet. Não prevê grande diferença nas vendas, porque vive "dos clientes certos".
Por outro lado, está à espera de melhorar a faturação em breve. "O turista melhor vem em julho e em agosto. E em setembro. Setembro também é bom", diz Margarida, para logo recuar no tempo: "A nossa rua, antigamente, era muito boa para comércio. Nós vendíamos muitas revistas e muitos figurinos. Agora está tudo na Internet".
José Azevedo, responsável por uma loja com o mesmo nome dedicada à venda de artesanato e recordações, receia que os tapumes das obras impeçam os potenciais clientes de perceber que é possível subir a 31 de Janeiro. E, se não subirem a rua, não reparam na sua montra.
"Há muitas lojas fechadas pela rua acima. Tudo o que seja condicionar a passagem das pessoas vai piorar ainda mais a situação", é a sua previsão. "Causar transtorno vai, de certeza. Basta as pessoas verem obras e, se calhar, já não passam por aqui", sublinha.
Albino Braga trabalha no Cerva Café e acredita que a mudança no trânsito vai "prejudicar um pouco". Mesmo sendo só de passagem, muitos condutores "vêem que há aqui um café e voltam mais tarde, ou param em frente", refere.
Augusto Salvador, responsável pela loja de artesanato Massima, não prevê problemas de trânsito, mas receia a reação dos turistas. "As pessoas querem ver a estação, que é um atrativo forte, mas este atrofiamento limita as pessoas. Os turistas vêem as obras e desviam-se", diz.
Apesar de referir que as obras prejudicam sempre o comércio, a responsável pela loja de móveis e decoração Correia d"Abreu demonstra algum otimismo. "Se houver um acesso pedonal, sempre facilita", diz Maria Amélia Vilar, para concluir: "Depois pode vir a compensação, as pessoas terem acessos mais fáceis e rápidos para a Baixa".
Estas alterações vão levar a que os automobilistas que pretendam ir para Sá da Bandeira, vindos da Praça da Batalha, sigam por Santa Catarina e desçam a Rua de Passos Manuel. A 31 de Janeiro terá sinalética a indicar que se trata de uma rua sem saída, estando igualmente previsto que a Polícia Municipal ajude na orientação dos condutores, ao cimo da rua, pelo menos nos primeiros dias.
As mudanças na circulação automóvel vão manter-se enquanto a obra estiver em curso. Segundo fonte da Autarquia, o período máximo para condicionamentos de trânsito deste tipo é de seis meses, mas haverá novo pedido da Metro do Porto para prolongá-los por igual período, de forma a que acompanhem a duração da obra, ou seja, um ano.
A Baixa do Porto conhece agora mais uma empreitada referente à futura linha Rosa, que vai ligar esta zona da cidade à Boavista, sempre em trajeto subterrâneo. Segundo a Metro do Porto, a obra que agora se inicia junto à Rua de 31 de Janeiro inclui "trabalhos de desvio de redes de abastecimentos públicos, trabalhos de contenção relacionados com o Rio da Vila" e, em paralelo, a "abertura de acessos à nova estação S. Bento/Liberdade".