Imóvel no Centro Histórico, onde foi escrito "O crime do padre Amaro", está emparedado e à venda
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A casa onde Eça de Queirós viveu, quando foi administrador de Leiria, em 1870, está à venda por 250 mil euros, revelou ao JN Luz Pedroso, proprietária da agência imobiliária Twelve Square. Situado no Centro Histórico, o imóvel onde o autor escreveu "O crime do padre Amaro" está emparedado desde julho, na sequência de atos de vandalismo, praticados nos últimos anos.
Constituído por três quartos, uma cozinha, uma casa de banho e uma cave ampla, o edifício tem 85 metros quadrados por piso e "um bocadinho de logradouro nas traseiras", explica a agente imobiliária. Localizado na Travessa da Tipografia, possui uma "arquitetura simples", pois foi construído por uma família, que morava no imóvel ao lado, para "aumentar os seus rendimentos" através do arrendamento do espaço.
Luz Pedroso defende que todo o edificado do quarteirão, onde se situam quatro imóveis, entre os quais a casa onde o escritor morou, deve ser intervencionado em conjunto, pois implicará a utilização de gruas, numa zona de difícil acesso, por as ruas serem estreitas. Porém, o projeto aprovado pela Autarquia não avançou e, entretanto, já caducou.
Superior à avaliação
Os atuais proprietários equacionam agora vender o conjunto de casas, que tem sofrido atos de vandalismo: vidros partidos, móveis destruídos e paredes grafitadas no interior. "A Câmara manifestou interesse na compra e tem direito de preferência, mas já passaram três anos e meio", esclarece a agente imobiliária.
O presidente da Autarquia, Gonçalo Lopes, diz que "o Município mantém o interesse" na aquisição do imóvel, para "fins culturais", mas entende não estarem reunidas condições para fechar o negócio, porque "o valor proposto para a aquisição é superior ao valor da avaliação do mercado" que se situa nos 160 mil euros.
Quadro voa pela janela
O conjunto de edifícios, onde se integra a casa onde Eça morou mais de um ano, tem sido alvo constante de vandalismo, nos últimos anos. Ana Magalhães, proprietária da Cestaria Fonseca, localizada em frente, assegura que esses atos são cometidos por adolescentes e diz que já chamou a Polícia várias vezes. Num dos casos, porque mandaram um quadro por uma janela.
"Uma vez, estava a falar com duas clientes à porta e, assim que entrei na loja e elas se foram embora, caiu um vidro do andar de cima", relata a comerciante, indignada. "Conheço-os a todos. Em tempo de aulas, aparecem sempre por volta do meio-dia", conta. "Se lhes perguntamos o que vão fazer para dentro das casas, ameaçam-nos, dizendo que os pais são advogados e que conhecem os seus direitos".
Como os edifícios têm ligação através de um quintal, nas traseiras, Ana Magalhães conta que, quando os jovens se apercebem da chegada da Polícia, saem pela casa do outro lado da rua, para não serem apanhados. "Há aqui uma câmara [de videovigilância] em frente. Só não os identificam se não quiserem", observa a comerciante. "Todos conhecem a porta 24 da rua direita".
Confrontado com esta questão, Gonçalo Lopes explica que "a PSP já tem conhecimento da necessidade de vigilância e o proprietário já foi informado da necessidade de garantir a segurança do edifício".