Tem recusado propostas da Câmara e da Segurança Social. Moradores ajudam com alimentos e agasalhos.
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Os dias de Maria do Céu Tiago e Abílio Ferreira são passados a olhar os carros que atravessam a estrada por baixo do viaduto onde vivem na Maia. Ela tem 55 anos, ele menos cinco. São um casal e estão sem abrigo há cerca de um mês, altura em que tiveram de deixar uma casa abandonada, sem luz nem água quente, que ocuparam mais de um ano. Sobrevivem com o apoio da vizinhança que lhes dá refeições e agasalhos. "Estamos muito agradecidos", ressalva Abílio Ferreira. A Câmara da Maia e a Segurança Social têm procurado ajudar, propondo mesmo alternativas, que têm sido recusadas.
O casal pede "uma casa para poder viver e construir vida". Maria do Céu Tiago diz ter feito um pedido de habitação social à Câmara da Maia e ter enviado duas cartas a pedir ajuda à Autarquia. Sem emprego, o rendimento social de inserção (RSI) não lhes permite pagar uma renda. "É tudo a 300 e a 450 euros. Não se pode", lamentou Abílio.
Questionada pelo JN, a Autarquia referiu que o casal não reúne "os critérios para atribuição de habitação social por manifesta incapacidade em gerir a necessária autonomia pessoal e economia familiar". "O casal carece de ajuda especializada para recuperar a sua autoestima e autoconfiança, por forma a retomar nas suas próprias mãos a condução da família e a orientação da sua vida quotidiana", acrescentou.
Assume recusa
Ressalvando que "o casal é acompanhado por uma associação de solidariedade social com protocolo RSI firmado", a Segurança Social esclareceu que, "como resposta urgente e imediata, recorreu à negociação com o casal para integração em respostas de emergência que implicam sempre a separação de género e a realização de teste covid-19". A solução foi rejeitada. Acrescentou que tem vindo a ser discutida a possibilidade de "comparticipação no arrendamento de casa, quarto ou parte de casa".
Abílio Ferreira assume recusar ficar numa instituição separado da companheira. O casal conheceu-se há cerca de cinco anos e, em 2016, rumou a França para trabalhar. Regressou a Portugal dois anos depois e, desde então, está sem abrigo.
Sensibilização
A Câmara da Maia sublinha que "os técnicos têm tentado sensibilizar o casal para que aceitem a solução transitória proposta".
Conflito
O Município acrescentou que as tentativas de envolver a família numa solução resultaram em conflito, "face à manifesta incapacidade de integração social por parte do casal".