<p>Trebilhadouro deixou de ser uma aldeia abandonada. A Câmara de Vale de Cambra investiu na requalificação e as gentes das cidades reconstroem agora as casas. Uma nova vida estimulada pelo Festival de Artes, que arranca hoje, sexta-feira.</p>
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Há duas décadas, a aldeia de Trebilhadouro, na encosta da Serra da Freita, freguesia de Rôge, Vale de Cambra, viu os seus últimos habitantes partirem em busca de uma vida melhor. Os silvados invadiram caminhos, terrenos e habitações. A aldeia com vista paradisíaca para a Ria de Aveiro transformou-se num espaço sem vida.
Perto de um fim sem retorno, com as primeiras pedras de granito a caírem por terra, Trebilhadouro acabaria por despertar para uma nova vida, em 2001, ao ser "invadida" por um grupo de jovens que decidiram organizar o Festival Internacional de Artes e Culturas (ver caixa). Menos de uma década depois, Trebilhadouro e o seu festival registam uma ascensão meteórica, chamando a si muitas atenções. As imagens da aldeia correram mundo pela internet, tornando-se cobiçada por quem procura um lugar paradisíaco.
Num ápice, as casas foram quase todas compradas. Das 15 existentes, restam três ou quatro, de reduzidas dimensões e degradadas, com preços que alguns dos novos habitantes dizem, em surdina, ultrapassar os 35 mil euros.
"É um local muito bonito, pacato e com vista privilegiada para a Ria" explica José Miguel Monteiro, 33 anos, administrador, residente no Porto, que diz ter ficado "apaixonado" quando viu a aldeia e a casa que acabaria por comprar. "Logo que a vi a casa decidi fechar o negócio" recorda um dos primeiros s recuperar a habitação datada de 1886.
Paixão idêntica levou, ainda, Horácio Pereira, um empresário de madeiras, natural de Albergaria-a-Velha, a investir no local. "Fui à aldeia para dar um orçamento e acabei por comprar duas casas", recorda. "Adoro o sossego e a vista para o mar", justifica.
Com os particulares a adquirem as propriedades privadas, a Câmara decidiu definir regras na restauração e levou a efeito um plano de requalificação com um custo global de 500 mil euros. "Os espaços públicos estão irreconhecíveis" refere o autarca, José Bastos, recordando que passeios e muros foram totalmente recuperados e construídas as necessárias infra-estruturas".
"Já temos mais projectos de novos proprietários a serem analisados" diz o edil, satisfeito com o regresso de habitantes, a maioria de fim-de-semana.