A deslocação do presidente da República ao bairro lisboeta da Mouraria, no sábado, obrigou esta madrugada à movimentação de uma enorme máquina de limpeza nas principais ruas, que as deixou sem um pingo de grafites. À ação não escaparam vários edifícios em ruínas, como o Palácio da Rosa.
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Uma hora da manhã. Os moradores da Rua Marquês Ponte de Lima, em Lisboa, acordaram com um aparato de rolos e pincéis em frente ao palacete em ruínas, que dá nome àquela artéria da Mouraria. A frente do imóvel está em derrocada mas tal não impediu que os funcionários da Tecnograffiti, uma empresa especializada na remoção de grafites, pintassem desenfreadamente de verde escuro as madeiras das portadas. Outros, mais em baixo, atacam as paredes doutros edifícios - mas, aí, apenas os grafites.
"Há uns dias colocaram umas faixas isoladoras, impedindo o estacionamento. Chegámos a perguntar se iam recuperar o palácio e disseram que sim. Mas, afinal, foi só para o pintar, para o senhor presidente ver", queixou-se, ao JN, Benedita Silva, uma moradora.
As alterações físicas no espaço público estão a decorrer há vários meses, orçadas em 13 milhões de euros. Porém, desde o anúncio da deslocação do Presidente da República, foram aceleradas, tendo até motivado o adiamento do assentar dos tradicionais arraiais populares da Mouraria - que só poderão ocorrer após a passagem da Cavaco Silva pelo bairro.
Destino idêntico tiveram outros monumentos, como o Palácio da Rosa, propriedade da Câmara Municipal de Lisboa, que está completamente entaipado e onde chegou a funcionar a Academia Portuguesa de História. Ali, as janelas emparedadas foram pintadas de branco.
O engalanar das ruas a serem percorridas pela comitiva presidencial, no âmbito das comemorações do Dia de Portugal, motivou ainda um reforço e um controlo policial, deixando a Mouraria com menos um dia de festas populares, já que o acabamento das obras só permitem que as estruturas possam ser montadas após a visita.