Criada em 1882, a Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto quer relançar prémio com o nome do patrono e criar a Biblioteca Óscar Lopes. Programa de aniversário vai estender-se até ao próximo ano.
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A Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto celebra 140 anos a 13 de outubro. Do programa de comemorações, que se estende até 2023, fazem parte a reedição do Prémio Rodrigues Sampaio e a abertura da Biblioteca Óscar Lopes, além de colóquios e encontros em torno da literatura.
Figura central das comemorações será António Rodrigues Sampaio, que inspirou a fundação da associação precisamente um mês depois de falecer. Natural de Esposende, foi redator dos jornais "A Revolução de Setembro" e "Espectro", este último alimentado clandestinamente entre 1846 e 1847. Chegou a chefiar o Governo, entre março e novembro de 1881.
Francisco Mangas, presidente da associação, lembra que Rodrigues Sampaio "sempre lutou contra a censura" e, mesmo enquanto foi político, "manteve os princípios de um homem isento e coerente e nunca permitiu que as liberdades fossem postas em causa". Por isso, a associação quer relançar o prémio que atribuiu entre os anos 50 e 80, então para distinguir autores de ensaios publicados na Imprensa. Entre os galardoados de outrora figuram nomes como Óscar Lopes, Victor Sá, Joel Serrão, José Manuel Tengarrinha ou Hélder Pacheco.
Ao reeditar o Prémio Rodrigues Sampaio, pretende-se enaltecer "alguém que defenda esses princípios e que os pratique", alguém que se distinga "pela defesa das liberdades", acrescenta. Seja através da literatura ou de outra expressão artística.
Quando os jornalistas do Porto prestaram a primeira homenagem a Rodrigues Sampaio, ao fundar associação a 13 de outubro de 1882, encomendaram um busto ao escultor Teixeira Lopes. Será feita uma réplica em bronze para instalar junto ao edifício, no dia do aniversário.
A atribuição do prémio e a abertura da Biblioteca Óscar Lopes (1917-2013) ainda não têm data prevista, por se tratar de projetos que aguardam financiamento. A associação adquiriu a biblioteca de trabalho do antigo ensaísta, crítico literário, deputado e professor e pretende que o acervo, composto por milhares de livros, alguns profusamente comentados, seja aberto à consulta pública.
Enquanto isso não acontece, Óscar Lopes será lembrado já no dia 28, no primeiro de uma série de colóquios a organizar em parceria com a Universidade do Porto para prestar homenagens a figuras que estiveram ligadas às duas entidades. Segue-se, a 19 de outubro, uma sessão sobre o médico e político Alfredo Magalhães, que também foi "uma pessoa muito importante para a associação", sublinha o presidente.
No arquivo do edifício sito à Rua de Rodrigues Sampaio, no gaveto com a Rua do Bonjardim, estão guardadas dezenas de programas do Teatro S. João que pertenceram a associados, como o jornalista João Oliveira Ramos. Vão estar em exposição no próximo ano e está a ser estudada a hipótese de ser editado um livro com esse material.
Do programa de comemorações fazem ainda parte um encontro com pequenos livreiros e editores, um outro dedicado à literatura infanto-juvenil e sessões regulares de poesia.
Previsto está também o retomar da iniciativa "O mundo que vivi". Serão momentos em que diversas personalidades vão falar sobre as suas experiências. No dia 5 de maio, a associação recebe Jorge Carvalho, o último preso da PIDE a ser libertado no Porto, enquanto as sessões de junho e julho serão dedicadas, respetivamente, a Maria José Ribeiro, dirigente da União de Resistentes Antifascistas Portugueses, e Nuno Canavez, alfarrabista que é o rosto da Livraria Académica.
Lembrando que a Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto "foi uma instituição importantíssima na cidade e no país", ao estar sempre na linha da frente na defesa da liberdade de Imprensa, Francisco Mangas não deixa de salientar o papel social que desempenhou no passado. Refere-se ao apoio que dava aos órfãos e às viúvas dos associados, até aos anos 60. "Foram dezenas de casos de pessoas com dificuldades lancinantes", afirma, para acrescentar que "a massa que forma a associação é a generosidade".
Hoje, a realidade é outra, no que à matriz social diz respeito. Mas o dirigente insiste: "A defesa das liberdades está hoje de novo na ordem do dia e é esse legado que temos de manter bem vivo".
Na expectativa de que os 140 anos sirvam de "ponto de viragem" na vida da instituição, Francisco Mangas preocupa-se também com o facto de poucos associados, entre os mais de 500, pagarem as quotas mensais. Sensibilizá-los para essa necessidade será outra prioridade, além da atualização da base de dados.