Os utentes sem médico de família que se dirijam ao centro de saúde de Tondela e peçam uma consulta estão a ser encaminhados para a urgência do hospital, uma situação que se arrasta desde meados de Dezembro.
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Esta situação foi confirmada à agência Lusa por utentes e funcionários do centro de saúde e pelo vice-presidente da Câmara de Tondela.
Fonte da Administração Regional de Saúde do Centro (ARSC) admitiu que aquele centro de saúde "tem falta de médicos decorrente da aposentação de quatro clínicos no ano passado" e que os utentes que a ele se dirijam "em situação de doença aguda são reencaminhados para o Serviço de Urgência Básica do Hospital de Tondela", nas imediações.
A ARSC "tem vindo a acompanhar a situação, prevendo-se agora, aprovado o Orçamento de Estado de 2012, a possibilidade de poder recorrer à contratação de médicos no sentido de suprir a carência", acrescentou.
Pedro Figueiredo foi um dos utentes que ficou indignado quando, ao tentar marcar uma consulta para a mãe, que há cerca de um ano teve um Acidente Vascular Cerebral (AVC), foi informado que devia dirigir-se à urgência do hospital.
"Eu disse que ela precisava de uma consulta de rotina, porque tem de ser seguida e de fazer análises regularmente, e mandaram-me para a urgência do hospital. Então isto é um caso para ir à urgência?", questionou.
Por considerar a situação inadmissível, Pedro Figueiredo fez uma reclamação no Livro Amarelo e enviou um e-mail ao director executivo do Agrupamento de Centros de Saúde Dão Lafões III, José Craveiro, com conhecimento à ARSC.
"Na resposta ao e-mail, o Dr. Craveiro disse que devia aguardar informações de Coimbra (da ARSC). Na resposta à reclamação que fiz no Livro Amarelo, respondeu que a situação é preocupante e que estava a ser resolvida, mas em relação às análises de dois em dois meses disse que não via que a situação clínica as justificasse", lamentou.
Outro utente, Armindo Ferreira, começou com queixas na coluna quando ainda tinha médico de família, que o mandou fazer exames. "Quando fui para lhe mostrar os exames já estava aposentado. Entretanto tive uma crise e fui parar às urgências e depois disso já tive de lá ir mais quatro ou cinco vezes", contou.
Funcionários do centro de saúde confirmaram que houve já várias pessoas a apresentarem reclamação por causa desta situação.
O vice-presidente da autarquia, José António Jesus, lamentou que o centro de saúde de Tondela esteja "em absoluta ruptura" por causa da falta de médicos.
"Ninguém com bom senso pode pensar que esta solução se pode eternizar. Mandar as pessoas para a urgência do hospital contraria qualquer princípio de gestão e política de saúde", considerou, defendendo que "as pessoas devem ter médico de família e terem com eles uma relação de proximidade, de partilha e de confiança".
Actualmente estão ao serviço apenas dois médicos para cerca de 12 mil utentes.