Com mais de 500 anos de tradição cerâmica, Caldas da Rainha tem hoje cerca de 150 artesãos que estão a regressar às formas ancestrais de trabalhar o barro. A garantia é dada por Teresa Teodoro, presidente da Associação de Artesãos. Os falos são os mais procurados, assim como a reprodução dos órgãos sexuais femininos.
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Teresa Teodoro, 65 anos, explica que quando a Rainha D. Leonor fundou o Hospital Termal, em 1485, havia necessidade de dar de comer a todas as pessoas que o procuravam para banhos. “D. Leonor trouxe dois oleiros de Lisboa, para fazer canecas, copos, tijelas e alguidares”, conta. A partir daí, o número de artesãos foi crescendo e, nos anos 80, a indústria cerâmica era a maior empregadora das Caldas da Rainha.
Com a abertura de Portugal ao mercado externo, a partir de 1986, muitas fábricas encerraram, por não conseguirem competir pelo preço. Hoje, a presidente da AACR diz que restam apenas quatro. No entanto, ressalva que a arte de trabalhar o barro tem sido transmitida de geração em geração, e tem despertado o interesse de jovens da Escola Superior de Artes e Design, nas Caldas da Rainha, aliada ao design e às novas tecnologias.
Mónica Correia, artesã de 43 anos, não tem mãos a medir para dar resposta à procura de falos, vulvas e maminhas, algumas sem um dos seios, e outras com latas de leite dentro do soutien, a pensar nas mães “pressionadas” a amamentar. “Quisemos homenagear as mulheres”, explica a proprietária da Loja do Ca..lho.
Muitos são autodidatas
“A minha formação e do meu marido é em Restauro, mas começámos a fazer coisas em barro, e ficou o bichinho”, conta Mónica Correia. Nos meses mais calmos, aproveitam para fazer stock. Além de magnéticos, pregadeiras, anéis, colares e brincos, a Loja do Ca..lho vende ainda andorinhas, o Zé Povinho, a Rainha D. Leonor e corações com o bordado das Caldas.
Artesãs ceramistas, as irmãs Sara, Ana e Isabel Cardina partilham o mesmo espaço de produção, onde têm quatro fornos. Sara, 63 anos, foi a primeira a começar, após ter pedido a reforma antecipada há 16 anos. Nos últimos anos, juntaram-se a ela Ana, 62 anos, e Isabel, 61 anos. Autodidatas, aprenderam com a irmã mais velha, mas cada uma tem o seu estilo. As vendas, em Portugal e no estrangeiro, têm corrido bem.
Alfredo Roque, 60 anos, começou a mexer no barro, na década de 70, por influência do pai, oleiro que fazia peças tradicionais das Caldas. Em 1987, fez um curso de Modelação Cerâmica e, desde então, trabalhou sempre em fábricas, primeiro como modelador e depois como consultor e formador. Durante a pandemia, desenvolveu uma coleção de 13 escritores de língua portuguesa, entre os quais Camões e Fernando Pessoa.
Filho de ceramistas, Afonso Mota, 23 anos, faz peças em cerâmica na roda do oleiro com um “cunho próprio”, com a mulher, Shannon, 26 anos. Tem ainda um ateliê criativo, na loja dos pais, onde dá workshops de cerâmica, modelação à mão e pintura, e a loja online whatthefolk.com, que garante estar a funcionar bem. Apesar disso, os dois autodidatas equacionam mudar-se para o Porto.